segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

MEUS PRIMEIROS PASSOS

Um dia eu cheguei nesse porto e pisei nessa terra

Foi dada a largada da minha jornada, foi o início dos meus passos

Nesse dia eu mobilizei mamãe, papai, vovó, vovô, um mundo de gente que me aguardava

Identifiquei logo os rostos que marcariam a minha história.

Outro dia eu voltei ao mesmo porto e pisei novamente nessas terras.

Numa retomada de renascimento, reiniciei meus passos.

Reinventei o levantar de tantos tombos que me acompanham nessa jornada de tantos
erros.

Arrisquei saltos em momentos felizes e chorei ao despencar em buracos escuros.

Hoje volto o olhar aos meus pés que pisam mais uma, de tantas vezes, essa mesma terra

Já não identifico com tanta clareza os rostos que me aguardam, algumas vezes não há ninguém nesse porto.

Mas os primeiros semblantes que um dia me aguardaram, marcaram a fogo e ferro o peso dos meus ombros.

E vejo seus olhos, suas almas, suas críticas em cada dia, em cada luta, em meus desejos.

Me pergunto se esses olhos me apontam seus dedos dizendo que nada fui do que era esperado ser.

Se levantam a sobrancelha em tom de preocupação

Se rezam todas as noites pela minha alma

Hoje, num ato desesperado, piso e repiso na terra tentando destruir, esmagar os fantasmas de quem tanto me amou.

Numa mistura de amor e ódio, piso, pulo e choro de saudade de uns e algemas em outros, saudades de outros e gratidão por uns.

Seguro meus pés e minhas pernas querendo que destrua o caminhar de criança e andem por seus próprios passos, seu único ritmo, minha única e absoluta forma de andar.

Que dessa nova vez, ao aportar e renascer... Mais uma nova tentativa de aprender a andar... Que eu finalmente corte as amarras de pessoas amadas que me prenderam, por amor.

Que, por amor, eu finalmente renasça mulher. Que durma criança e acorde livre, sem medo dessa terra nova, tantas vezes pisada e repisada num desesperado ato simples de aprender a viver.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aos artistas das sombras



Muito obrigado

Obrigado por essas palmas
Que me fazem, ao menos por esse instante,
Amenizar o peso do fracasso que curva meu corpo.

Aqui neste palco de sombras
De ilusões
De sonhos...
Sonho.
Tentei minha eterna
última chance

Errei meu número
... peço desculpas...
Perdão por não ser o que vim ser
Perdão por não chegar onde vim chegar
Peço perdão assumindo meu fracasso... Recebo aplausos caridosos e, aceito sorrindo, o sorriso dos palhaços.
Carente, como todo artista, me contento com suas palmas.
Quero dançar nesse som, quero me expressar na sua piedade.

Obrigado por amenizar a dor em meu peito que acompanha minha jornada de artistica
Artista sem arte
que mobiliza uma força inexplicável de apenas ser artista, que acredita no som ilusório do seu aplauso.

na esperança de escutar mais uma vez esse som, que me alimenta os sonhos, peço perdão pelo meu erro. Sei que te constranjo, sei que te intimido, mas, perdão, preciso desesperadamente escutar suas palmas.

Por caridade, não me neguem um desejo de quem nada mais tem pra desejar.
pelo perdão do meu fracasso
peço uma salva de palmas pra quem está nu, num palco, implorando amor e compaixão.

Assim!
Obrigado!
Sim! Sou um artista das sombras
Aquele que apenas sonha
Aquele onde a arte é maior do que sua habilidade pra exercer
Aquele que ninguém vê
O qual seu único sonho é ser visto.

Em minha roupa simples
Meu sapato roto, minha cara marcada
Meu olhar vazio
Sou aquele amante sombrio da arte
Aquele escondido, aquele que se tem vergonha de amar

Perdoem-me
Perdão por estar aqui
obrigando-o, obrigado, perdão por me assistir
Me dê uma esmola, por favor
Não sei o meu valor
Sua palma paga a ilusão do artista, mas o corpo precisa de pão.
Sua palma alimenta minha alma, mas o corpo não mais se sustenta com poesias rasgadas.
Nada mais tenho pra lhe dar, além do meu perdão pela necessidade de aqui estar.
Sem essas luzes não resisto, sem suas palmas não durmo e sem sua caridade não como.

Canto uma ópera
recito um poema
toco um instrumento

conto uma piada
posso cair no chão,
posso dançar
me façam de palhaço, me usem!
quero ouvir a sua risada, mesmo que de mim e não por mim... Mendigo...
Mendigo seu aplauso, mendigo seu sorriso, preciso da sua esmola.

Quando, por pena, você se aproxima,
me elogia,
mentindo por amor
não lhe olho nos olhos
me distraio, me distancio.
É que suas palavras me fazem viajar na mentira, enquanto seus olhos me batem com a verdade.
Preciso de suas palavras, evito seus olhos. Seu som me levará ao dia seguinte, a verdade me paralisa.

Perdoem a mim e perdoem a todos nós
Todos os artistas de sombras vagando pelas esquinas
Pelos becos escuros da cidade.
Sou o menor abandonado
O mendigo que vaga
O bêbado caído
A sombra da sociedade

no palco das sombras
um mendigo, menino
... de rua ... da arte...


Sendo assim... Perdão!!

Ahhh o aplauso!

Uma reverência...

... Muito obrigado.
Sei La... Tanta coisa...

Tanta coisa ao mesmo tempo

Sei La o que acontece

Acontece tudo ao mesmo tempo

Sei mas não sei, sabe assim?

A gente sabe mas finge que não vê

Sei La, tanta, mas tanta coisa

Uma e outra que parecem distintas e no fim são a mesma coisa

Coisas de dentro, coisas de fora... sei lá

Qual é qual, quem é quem

Sei La, não sei, tanta coisa, meu Deus!

Um passo pra direita que me leva pra esquerda,

Um atalho que não tem fim

E, no fim das coisas, são tantas e tantas as coisas que não têm mais forma de coisas

Já não se vê mais como coisas, já não se vê mais de jeito algum

E... Sei lá, é um esforço tão grande pra se enxergar, pra se entender que, exausta,

digo: sei lá, meu Deus, é tanta coisa...

Tanta, tanta coisa

Tonta coisa, tonta na coisa... tonta por tanta coisa... Sei lá

Tô tonta.