domingo, 22 de novembro de 2009

E começou assim...


E começou assim... Tudo começa de alguma forma. E começou de uma forma abstrata, indefinida, como a fumaça de um cigarro que dança no ar até se dissipar sem forma.

No início, ou no ponto de partida, naquele momento onde um conjunto de coisas identificadas que formam uma unidade, no momento em que tomamos consciência de uma existência... Neste instante temos um início.

Ele já existia bem antes, a nascente pode ser desconhecida, mas no momento em que as águas despencam com força é quando algo se inicia. Assim sendo, não começo do início, mas inicio um começo do meio, já que temos que começar em algum ponto e de algum lugar.

E começou com um olhar! E por causa desse momento, que durou apenas uns segundos, ele passou a existir na minha vida. Olhos que me acompanharam e me vigiavam e colocaram ordem nos meus dias. Olhos que existem, olhos de uma pessoa, olhos que respiram e têm vida própria. Olhos que falam, que dizem muitas coisas em pouco tempo, que param o tempo e dialogam por horas num piscar de olhos.

A sequência que se seguiu ao olhar foi pura fantasia... Mas os olhos que me acompanham e que vislumbro no escuro, quando fecho meus olhos, serão também eles fantasia?

Me agarro aos seus olhos e me torno uma pessoa melhor pra você ver. Sinto o seu olhar nos meus dias e quero que me vejas bonita. A minha casa arrumada, convidativa, te chamando pra que venhas ao meu encontro. Será que você realmente me vê?

Me apego aos instantes antes de se dissipar a fumaça, e vejo seus olhos nas paredes, no teto do meu quarto, velando o meu sono. Tento desesperadamente prender sua massa abstrata dentro de algo que lhe dê forma, e não quero deixa-lo ir.

Com começo, meio e fim, você me olhou e se foi tão rápido como o início... E agora eu fico a perguntar: Foi pelo seu olhar por mim que me apaixonei, ou o meu olhar por ti? Quem olhou quem? Quem viu o que? Estariam vivos os seus olhos fora de mim? Ou os meus olhos foram os que velaram o meu sono e eu me enxerguei atraves dos seus olhos? Fantasia, tudo vivo apenas em mim, vivi um grande amor comigo mesma te vendo a cada segundo dos dias que se seguiram ao seu olhar.

E no fim, foram em vão os esforços pra segurar a fumaça que saía do meu cigarro. Tudo durou apenas um olhar, como num trago, a fumaça se dissipou em meio ao ar e na minha casa não vejo mais seus olhos. Tudo não passou de fantasia e filosofia que, durante um único cigarro, pensando vagamente em coisas da vida, seu olhar fez parte de um momento de solidão e me fez lembrar de épocas de mais olhares e mais amores e mais fantasias.

E, assim, dando um último trago, vejo a fumaça que sobe, que dança e vai se desfazendo, se dissipando em meio ao infinito do ar... Para, em seguida, o cigarro apagar.

amor de homem


Pai, vem dançar comigo. Deixa eu pisar no seu pé!
Vamos brincar de pique-esconde?
Assovia pra eu te achar.
Pai, autos, autos na brincadeira
Meu pai é o homem mais bonito e mais forte de todos.

Busco esse mesmo homem nas esquinas tortas da vida
Busco tanto e sempre, cegamente... Nenhum me parece ter as qualidades necessárias às que busco.
Busco, e quanto mais busco menos me aparece o objeto da busca... Que talvez nem saiba mais qual seja.

O selo cravado em minha alma por meu pai, o carimbo escrito em minha infância, hoje se encontra diante de meus olhos
Claros, nítidos e distorcidos pela cor da idade, da maturidade, da sociedade...

Meu pai me aceita como sou.
Sou levada e malcriada e tenho medo de que esse amor se vá.
É preciso ser educada, é preciso, para ser amada.
Tenho que saber cultivar esse amor, esse não vem de graça.
Amor de pai se nasce trabalhando por ele.

Agora meu pai tem um tempo pra mim, ele é só meu! Sem minha mãe, sem meus irmãos, só eu e suas mãos grandes, só eu e seus pêlos engraçados... Quantos pêlos meu pai tem!

Busco essas mesmas mãos nos encontros da vida, mãos que me segurem, mãos que me acolham.
As mãos estão lá: grandes e com pêlos, fortes, grossas e agressivas... Maltratam, me matam, me arranham...
Mãos que batem... É preciso falar baixo, é preciso ser educada, é preciso merecer o amor do homem.
Homem pai de dentro, homem estranho de fora.
Homem que me olha distante, longe em seu estranho mundo de homem... Não chego até ele, é inútil!
Mas quando ele vem... Só eu e eles, os homens de minha vida, a única mulher... e criança.
Felicidade é brincar até a hora de ele ir embora.
Costume é esperar até a hora dele me notar.
Realidade é olhar de perto o homem tão longe, em um mundo distante, desconhecido, o qual eu não faço parte.
O mundo complexo de um homem só... só um homem só... carimbou minha infância, cravou suas marcas em minha vida e dita as regras de minhas buscas.

O amor do homem não vem de graça, trabalhamos desde que nascemos pelo amor do homem.
Queremos, erradamente, acesso ao mundo fechado. Um lugar lá longe, naquele distante homem, enfurnado naquele estranho mundo.
E eu trabalhando pelo seu amor, esperando a sua volta, ansiosa pelo momento em que vou ser só eu e eles... Os homens da minha vida.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

qual é a sua música?




É importante aprender a se ouvir. Escutar os sons do seu corpo e sua linguagem própria. Estudar seus significados e, cada vez mais, se especializar em si mesmo.

Coisas simples e cotidianas como estar com fome, estar saciado, estar com sono, estar cansado... Até coisas mais profundas e mais sutis como hora de se calar, hora de se impor, hora de sair, hora de fugir, hora de ficar, hora de beijar, hora de largar... hora de receber, hora de dar...

O corpo sabe de tudo, o corpo sabe a resposta, sabe o que é melhor. Não é incrível que vivamos dentro de um corpo que fala uma lingua que não falamos? Que seja exigido fluência em inglês e espanhol, mas nunca corporal.

Escutar seu corpo é escutar a si mesmo, é não se atropelar por algo extra-corporeo. É deixar que o mundo se atropele e não te leve junto. É carinho, é amor, é vida.

Ouvir seu corpo é escutar o outro.
Respeitar seu corpo é respeitar o outro.
Respirar o ar necessário ao seu corpo é não retirar o ar do outro.

Vamos todos abrir mais nossos sentidos internos, sentir mais nossa própria essência. Sejamos senhores de nós mesmos e, com muito carinho, cuidar do nosso corpo e do nosso mundo interior.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Roda mundo, roda gigante




A vida te leva por caminhos tortos, como pais que contrariam seus filhos porque sabem que é assim que se educa. E mesmo sabendo que a mudança foi boa, que não mudaríamos sem o sofrimento, que, infelizmente, precisávamos passar por tudo o que passamos pra mudar... Mesmo assim, ainda ficamos contrariados... Como crianças mimadas que acabaram de tirar o brinquedo.
Só que não temos pra quem reclamar e dialogar ou argumentar o castigo recebido. Até podemos levar um papo com Deus e pedir pra reavaliar os prós e contras. Mas, geralmente, quando nós paramos e avaliamos, é dificil, mas se conseguimos fazer isso, podemos ver que a gente precisava mesmo disso. É dificil porque estamos putos da vida, mas faz sentido! Fica claro que o que aconteceu era necessário. As vezes nós temos tantas oportunidades de aprender e de evoluir de forma tranquila, mas só quando te tiram algo valioso começamos a correr atrás do prejuízo.
É dificil ficar imóvel, fazer o anti-movimento, a tendência é correr, beber, comer, fazer e acontecer, mas o silêncio shhhhhh é dificil, a imobilidade é dificil
Uma linha tão sutil e tão delicada que um rompimento pode nos levar lá longe
E não cair no mesmo erro, não cometer os mesmos ciclos viciosos que estamos habituados e que nos faz sentir seguros e confortáveis... Nem sempre é o mais fácil, mas é o que conhecemos. Assim, eu vou do 1 ao 2 e ao 3 depois corro pro 2, voltando pro 1, as vezes saltando ao 3... E não saio disso. É desesperador que me veja novamente na mesma situação e que tenha cometido os mesmos erros! Tanta teoria, tanta filosofia, mas na hora H, na prática, tudo voltou à estaca zero
Talvez a vida seja isso mesmo, um redemoinho, uma roda gigante, uma roda da fortuna que não para de girar, e se repetir, até vc acertar e mudar pra outra fase, outro nível. O que passou, passou, agora é esperar o próximo trem pro mesmo destino e torcer pra que dessa vez eu acerte o caminho.

domingo, 8 de novembro de 2009

Per Amore


Per... um olhar nas ruas de Berlin
Ele sueco, eu Brasileira
Entre novidades e diversidades de linguas
Dois olhares se encontraram, duas linguas se tocaram
Dois países se reconheceram e iniciaram negociações profundas
Per...Um encontro de almas numa tarde de Berlin
Ele pintor, eu atriz
Dois artistas de culturas tão diversas, e a mesma língua
Duas almas em pontos distantes no globo buscando as mesmas coisas
Duas pessoas e a mesma sensação: a de se conhecerem por toda uma vida
Per apenas um dia e o medo de não terem mais dias de Per
Per mais um dia com vc
Per amore

passado, presente e...


Já se viu em um lugar, em algum momento presente, numa hora qualquer, e foi invadida pela recordação de viver o mesmo presente num passado distante? E ter a sensação de ser outra pessoa? De se lembrar vívidamente de uma pessoa que não existe mais. Sentada na mesma cadeira, olhando pra mesma paisagem mas sentindo a vida de forma muito diferente.

Saudade de épocas de mais sonhos, mais fantasias. Épocas em que momentos de conexão profunda com o meu ser eram momentos de viagens astrais de projeções de como seria a minha vida quando crescesse, nos meus filhos, meu marido, minha casa, minha profissão... Tanta coisa pra imaginar... O meu primeiro amor, quando fosse tocada pela primeira vez.

Hoje os momentos de integração com a natureza batem como um filme de tudo o que foi vivido e trilhado durante esses anos. Qual é o paralelo entre os sonhos de criança e a realidade de mulher... Não projeto mais muita coisa, vivo simplesmente, sem saber muito pra que lado correr, a vida já não é mais tão simples, mas também não é mais complexa do que era, é apenas diferente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Aula de sexo por uma feminista revoltada


Os seres são feitos de energia, a vida é feita de energia, tudo é energia... Quando se trata do homem (e quando eu digo “homem” estou me referindo somente ao sexo masculino), ele é composto puramente de energia sexual... Isso até os 30 anos ou 40, mais ou menos.

Chega um dia (e esse dia sempre chega), quando o coitado não se excita mais com qualquer coisa, quando não goza mais tantas vezes numa única noite, e quando a sua resistência não é mais a mesma. É o início da decadência sexual masculina, ou o anúncio da morte se aproximando (como alguns homens definiriam essa fase). É a primeira crise masculina. A primeira de outras que virão ao longo da vida. E que não seriam comentadas, discutidas ou sequer compreendidas... Simplesmente porque no século passado isso não era permitido ou aceito no limidado mundinho masculino. Eles deixavam esse tipo de atitude, de questionamentos e análises para as mulheres, e não poupavam ironias e comentários desagradáveis para aquelas que se aventuravam a trazer, para o relacionamento, questões profundas do seu ser... tsc, tsc... Uns pobres coitados!

Bem, estamos no século XXI, o que significa (esperamos realmente que signifique) que essas morais já estão ultrapassadas. Já se sabe que os homens estão perdidos, carentes e indefesos diante da nova figura feminina, que surgiu e que vem se fortalecendo nos últimos anos. Claro que devemos relevar a febre de bundas e peitos que invadem nossa televisão, jornais, revistas e grupos musicais todos os dias. Isso sem falar nos exemplares do sexo feminino “frutas” que surgem em programas altamente destrutivos e maléficos para a nossa sociedade. Programas que incentivam a ignorância, a alienação e o machismo deseducando as nossas crianças... Bem, isso é uma outra questão, me perdoem.

Por estarem tão carentes e indefesos, os nossos homens, talvez seja bastante doloroso discutirmos seus medos e pontos fracos neste momento... Eles não tem escolha, sinto dizer, e fico extremamente penalizada por todos vocês, de verdade. Dada a situação atual, ou o homem vai fazer análise, começar uma auto-analise, vai se entender ( com o principal objetivo de entender o sexo feminino), ou vai descobrir a sua homossexualidade depois dos 30... Nada contra a homossexualidade, mas, se esse não é o seu caso, aconselho que preste atenção e tente aprender alguma coisa porque a coisa tá feia pra vcs!

Enfim, agora que já entenderam porquê estão aqui e porquê a porta está trancada, podemos ir direto ao ponto. E por que não começarmos pelo ponto principal? Ele mesmo: o anus, vulgarmente chamado de cú.

O anus é um mito para o homem, isso quando se trata do seu, porque comer o cú da mulher é uma beleza! Perdão pela exaltação... Quero avisar aos senhores aqui presentes, que no seculo XXI não há mais espaço para complexos anais, e que, se a mulher dá, ele também tem que dar! A nova linguagem sexual entre os sexos diz que: se vc pede, está aberto para receber também, e vice-versa. Imagino que alguns aqui estejam se perguntando: Como uma mulher faria sexo anal em mim, e devem estar rindo num tom de deboche bem típico de machos ignorantes, he-he-he. Pois eu digo que o seculo XXI trouxe também uma infinidade de brinquedos eróticos, dos quais se incluem, vários falos de diversos tamanhos e cores variadas. Hoje em dia, qualquer mulher pode se armar com um membro potente do tamanho de sua vontade, hum, e fazer miséria com um pobre , virgem e indefeso cú maculino. Bem, isso já é uma questão pessoal de cada um em sua intimidade, perdoem.

Voltando a questão anal masculina versus século XXI, o pensamento feminino sobre esse assunto é bem claro:

Em primeiro lugar: se eu dou ele também dá, direitos iguais. (justo)

Em segundo lugar: Já está na hora dos homens saberem como é ser penetrado! A teoria é de que essa seja a forma física, direta e mais rápida de um homem compreender as mulheres!

Vamos nos deter sobre a segunda questão, que nos leva a analisar vários pontos importantes sobre a penetração. Essa é uma questão corrente, extremamente atual entre conversas femininas (Nunca dentro de um cabeleireiro, onde vc só encontrará conversas sobre o que acabaram de ler na revista caras, ou seja, sobre quem tem dinheiro, quem engordou, quem fez plástica e quem deu o fora em quem... Extremamente útil para a nossa tão evoluída sociedade... Mas isso também é uma outra história, perdoem).

Segundo o dicionário, penetração significa:
ação ou efeito de penetrar (hum),
facilidade de compreensão,
perspicácia (hum, hum)...

Bom, isso nos diz muita coisa... Vamos nos deter na “compreensão” e “perspicácia” visto que “ação ou efeito de penetrar” já esteja compreendido desde os 15 anos, imagino.

O homem penetra a mulher, a mulher é penetrada. Ela recebe, acolhe um corpo estranho dentro de seu corpo. Agora, como se sabe na medicina, a tendência de todo organismo é expulsar qualquer corpo estranho que lhe invada, ou seja, a penetração pode ser uma invasão! Para que isso não ocorra é preciso o que? Compreensão! Exatamente isso, é preciso compreender o processo, se envolver e, assim, desejar a penetração. Agora, quem penetra, não compreende absolutamente nada, concorda? Vai lá, mete lá e acabou. Invadiu numa boa o corpo da outra sem nem tomar conhecimento do que fez. É uma ignorância! Sem julgamentos, me perdoem.

Por tudo isso que foi falado aqui, é que o século XXI já está sendo apelidado de século anal. É o momento em que todo homem será obrigado a se abrir para a experiência dando, assim, o primeiro passo no caminho da compreensão da alma feminina. A nova ordem é: é preciso ser penetrado para poder penetrar. Já visualizo, num futuro bem próximo, casais se conhecendo, indo para a cama pela primeira vez, os dois com seus exames de HIV atualizados e o homem com seu atestado de penetração anal, incluindo em anexo, uma redação sobre suas impressões do que é ser penetrado para ele. Temos que concordar de que isso facilitaria bastante as coisas!

Bom... Obrigada pela atenção e agora já podem ir. As portas da sala estão abertas, representando as portas do universo feminino que aqui também se abriram. Tenho certeza de que suas mulheres me agradecerão um dia. Boa tarde e um bom século anal a todos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Vazio




A vida é cheia de mudanças, de fases. De pessoas e lugares. Épocas, histórias...
Pessoas que chegam, entram nas nossas vidas e passam. É difícil viver e se adaptar, se acostumar com alguém, mas talvez seja mais difícil se despedir e sentir o vazio que aquela pessoa deixou.

Parece um alívio misturado a um sentimento confuso. Uma solidão que se intensifica quando alguém vai embora. Diferente da solidão antes dessa pessoa chegar.

Desejei ficar sozinha comigo novamente, voltar tudo como era antes. Mas as águas de um rio nunca são as mesmas, assim, a solidão é uma nova solidão e precisa de nova adaptação. Recomeçar a conquistar o conforto de estar bem consigo mesma. Um novo começo, uma nova história.

O fim vem acompanhado de uma saudade e um vazio. A alegria de chegar ao fim de uma jornada e completar uma fase significa aceitar a morte de algo dentro de nós. Um luto oculto, velado, subjetivo.

Um ator vive de nascimentos e lutos durante toda a sua vida. O nascimento de um novo personagem, uma nova vida, uma nova fase, e o fim, a saudadee... O vazio.

Dessa forma deveríamos nos acostumar e saber que tudo tem um fim, nada é pra sempre. Mas na prática não é tão simples assim. Em cada nascimento, nos apaixonamos pelo novo e esquecemos que acabará, assim, somos pegos de "surpresa" pela morte, mesmo sabendo o tempo todo que ela nos acompanha, basta nascer.

Tenho uma necessidade de me apegar as coisas e uma dificuldade em passar por mudanças. Sofro muito cada vez que algo termina e tenho de me abrir ao desconhecido. Até que o novo vira conhecido e necessário na minha vida... E tudo recomeça, os ciclos, a roda da fortuna que não para de girar... E a gente tendo que entender que a morte é vida, vida é morte, alto é baixo, baixo é alto, silêncio é som e som também é silêncio... Mas o vazio permanece...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Selvagem



Imagina nós dois sozinhos entre arvores na noite

Imagina o tempo passando e nossos corpos passando junto

Imagina como seria, sem relógio, embalados pelo som de água e das criaturas

Entre a imaginação e a fantasia... Nós dois sozinhos

Imagina como seria se perder em sentimentos confusos

Sem tentar entender nada

Apenas vivendo junto o tempo

O dia que passa e a noite que chega... A noite que passa e o dia que chega...

Imagina dançar ao som das criaturas da noite e nós dois perdidos no escuro uivando

Imagina como seria se pudéssemos mandar ao inferno a realidade opressora

Reescrever a nossa história

E correr como loucos e lobos entre matas e terras selvagens

Shhhhhhhhh

Silencio, escutemos o chamado da noite que chama os amantes

Sim, que me entrego e me atiro ao destino

Que me arraste pelos cabelos me atire e me bata

Sim, que vivo intensamente como uma louca desvairada prenha de amor

Loba gerando a vida, farejando, arrepiando, sem medos, sem pudores

Viva a liberdade de se viver

O amor sem relógio

A vida na selva, o pé no chão, o cheiro de suor, orelhas em alerta... Longe, muito longe de sapatos e sabonetes e palavras e ordens e regras...

Me entrego, de corpo e alma, aos sons enigmáticos das águas e da mata

Das criaturas da noite ocultas

Que me busquem e me arrastem pelos cabelos

Que não sou diferente, distinta de um todo maior

Sou uma e me entrego à essa unidade

Imagina se vc vem comigo nessa aventura louca e desvairada?

Sem medos ou receios

Apenas a entrega certeira da unidade da vida

sábado, 24 de outubro de 2009

numa noite do Rio


Zé atirou em Pedro

Zé olhava um tênis caro

Pedro olhava a lua que surgia

Os olhos de Zé brilharam pela Jaqueta de Pedro

O olhos de Pedro brilhavam de amor pelo tapete estrelado diante dele.

Numa noite de lua, Zé atirou em Pedro.

Pedro, caído, olhava o céu.

Zé corria com seu tesouro.

Na noite de Pedro tinha lua, tinha estrela, tinha poesia

Na noite de Zé tinha sonhos, tinha números e o sorriso de Maria.

Zé não via as estrelas, Pedro as via pela última vez.

Um policial nessa mesma noite, olhou Zé, não olhou Pedro, nem estrelas, nem lua.

O policial olhou o tênis e a jaqueta mas não viu Pedro no chão

Os olhos do policial brilharam pelo tesouro de Zé, mas não viu que os olhos de Zé também brilhavam.

O policial nem viu Pedro, assim não viu os olhos de Pedro que brilhavam pela noite.

Lá se foram os três:

Zé andando sem tênis, sem jaqueta, sem estrelas

O policial levando o tesouro de Zé e a vida de Pedro

E Pedro se foi como a noite, fechou os olhos, sem tênis, sem jaqueta, sem noite, sem lua... E sem vida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

eu leoa


Eu não caibo em mim. Vivo um processo de busca de significado, de sentido da vida. Minha maior luta é domar um leão que tenho dentro de mim. Meus instintos e impulsos que me chegam como uma avalanche de emoções e eu tento conter os estragos. Não sei o que faço com esse lado animal, não sei como domar sem me enjaular ou me isolar do convívio em sociedade... Quem sou eu afinal que carrega essa carga enorme dentro de si? Quem é essa pessoa que convivo há 30 anos e parece um ser fora de mim?

sábado, 17 de outubro de 2009

as maravilhosas pedras do caminho


Lidar com as pedras do caminho é conversar com a vida que te convida a evoluir.

Sempre achei que a vida conversa com a gente. Quando estamos em sintonia com ela, podemos travar um diálogo direto, peguntando, recebendo respostas e, assim, conduzindo nossos atos e pensamentos por melhores estradas.

Quando tudo flui, existe uma chance muito grande de estarmos no caminho certo. Sentimos que as portas se abrem, as pessoas aparecem, coisas acontecem favorecendo nosso próximo passo.

Já quando encontramos obstáculos durante a caminhada, a nossa tendência é maldizer a vida ou qualquer que seja o objeto do nosso atraso. Mas são exatamente as pedras do caminho que nos convidam a conversar com a vida. É exatamente quando ela te obriga a refletir, buscar alguma transformação, alguma mudança de paradigma ou a flexibilizar, encontrando atalhos e meios alternativos pra se chegar onde queremos chegar.

Toda mudança começa observando nossos pensamentos e transformando os negativos em positivos. Um trabalho árduo, constante, artesanal , todos os dias pro resto da nossa existência. Assim, vamos, pouco a pouco, construindo e evoluindo a nossa consciência, caminhando em direção a paz.

Vale a pena viver e se trabalhar e se construir. A aposentadoria de si mesmo é o fim da linha! Não importa quantos anos temos, nosso trabalho de auto-observação e aprendizagem não acaba nunca.

E não há nada melhor do que, ao se contornar uma grande pedra, sentir que a vida sorri... Por isso: Que venham as pedras! O trabalho é grande, mas a recompensa é maior... Quem disse que a vida é brincadeira? Quem acha que viemos aqui pra brincar? Trabalhar é preciso! Então... Que venham as pedras do meu caminho!



No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

shhhhhhhhh





Um copo cai no chão em câmera lenta

O vinho tinto se espalha pelo ar

Barulhos de flamenco ao fundo , batidas de pé no chão e palmas

Vontade de dançar

Um segundo antes e nada teria acontecido

Aqueles momentos fatais que acontecem na vida

Que decidem nosso próximo passo, mudam a direção do nosso caminho

Um copo cai no chão e sons de pessoas me chegam ao fundo

Vontade de ficar quieta, me isolar do mundo, sem respostas e sem perguntas

Fechar as portas e as janelas encerrando-me em um exílio voluntário

Apagar a luz e dormir em paz

Um copo cai no chão, vazio e não quebra

A luz se acende sozinha e não se ouve viv’alma

O mundo dorme

Os diversos mundos vivos se recolheram

Silêncio, shhhhhhhhh

Até que o sol nasça... silêncio shhhhhhh

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um dia...



Um dia eu resolvi morar com um namorado. Juntar as escovas de dentes, como se diz. Me parecia a coisa mais acertada a se fazer, e hoje, voltando o filme, vejo que não poderia estar mais errada. Vejo que eu encobria a minha visão e só via o que eu queria ver. Vejo e Fico impressionada com a capacidade que temos de ver apenas o que queremos ver. Em simplesmente passar por cima de qualquer fato que,por ventura, nos faça questionar algo que queremos muito fazer. Quando queremos muito uma coisa, todos os fatos podem dizer o contrário, mas nos agarramos aos pedacinhos que fazem com que acreditemos que vai dar certo. E, assim, nada, nem ninguém, é capaz de nos trazer à realidade ou de nos demover dos nossos objetivos. A gente precisa pagar pra ver! Pois é... Quando a relação acabou, eu estava devastada, completamente sem chão e sem saber pra onde ir.

Foi então que iniciei uma sequência desenfreada de ações e mais ações, eu não podia parar. Corria de um lado pro outro, de pessoas em pessoas, de bar em bar... Tudo pra fugir exatamente do silêncio que ia me fazer parar pra pensar. Nao conseguia lidar comigo, nao queria ficar sozinha, era muito fantasma pra encarar!

Comecei a me violentar. A agir alucinadamente em busca de prazer e ações grandiosas que me estimulassem e, ao final, era invadida por um pranto compulsivo, uma dor que me contorcia por dentro. Sabe aquele tipo de dor que não para, (não existe uma aspirina pra acabar com dor do coração) dá voltade de tirar o corpo fora, pois seu grito é insuportável. Parece que todos os órgãos, todas as células estão espremidos e não podemos fazer nada, a não ser esperar passar.

Essa época me lembra muito aquela cena do “Forrest Gump” quando ele sái correndo, e corre, e corre, corre mais um pouco e um dia... Para, e simplesmente resolve voltar pra casa. Foi assim que eu me senti. Um dia a dor diminuiu e resolvi voltar pra casa... O caminho de volta pode ser demorado, dependendo do tempo que passamos correndo, do quanto nos afastamos de nós mesmos, da nossa casa.

Eu estava correndo há anos! Me sentia perdida, já não sabia mais voltar. Nem lembrava direito como era estar em casa. Minha alma estava exausta de tanto vagar. Mas aos pouquinhos fui, passo a passo, voltando. Tijolo por tijolo, pecinha por pecinha... E fui reconstruindo uma pessoa inteira e sólida, concreta... Como quando nascemos... Um bebê nasce inteiro! Eu não sabia mais em qual momento da minha vida havia começado a me perder. Em que ponto da minha jornada fui engolida pela vida, como por uma onda gigante, que me fazia girar e girar me levando pra onde quisesse, e eu apenas me deixava levar.

Um dia... Parei de girar e correr. Nesse dia, mesmo fraca e exausta, comecei a me construir, a montar e criar, lentamente a minha casinha. Coloquei uma cama bem macia... E em mais um outro dia, eu deitei com o coração em paz.

Quantas voltas eu havia dado em todos esses anos, pra finalmente chegar ao ponto de não fazer nada e apenas ser. Quantas voltas, meu Deus, quantas fugas pra poder vestir o meu corpo confortavelmente e levá-lo pra viver.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O despertar da sexualidade


Como seria se pudéssemos desenvolver os nossos corpos escutando apenas os nossos instintos? Será que tudo ocorreria na hora certa de forma natural? Desde o dia em que nascemos somos bombardeados com noções de certo e errado, do que é aceitável ou não. Sentimos coisas que não deveríamos sentir, impulsos quase repugnantes. Será que seriam aceitos numa sociedade em que não houvesse certo e errado?

Como seria o despertar da sexualidade se simplesmente ouvíssemos o que o nosso corpo diz? Sem culpas, sem medos, apenas mais uma coisa nova pra se conhecer e descobrir enquanto crescemos. Será que teríamos tantos desvios sexuais como temos?

É um paradoxo enorme numa sociedade que respira sexo, onde vemos uma imagem erotizada em cada esquina, onde, com a internet, temos acesso a todo o tipo de informação, e mesmo assim, não sabemos como lidar com o despertar da sexualidade.
O que me leva a pensar no papel dos pais na educação de seus filhos. Seria o de punir, o de gerar sentimentos de culpa e vergonha, ou o de orientar, informar e acompanhar a caminhada de cada um? Por que será que é tão difícil aceitar que seus filhos são seres sexuais? Em qual ponto não resolvido com a sexualidade deles, faz com que joguem suas frustrações nos filhos. Quando apenas estão seguindo o fluxo natural de seus corpos, assim como comer.

E se, em outra cultura, o vergonhoso fosse comer? Se cada um comesse dentro de quartos fechados, em silêncio, e fizessem amor livremente pelas ruas e pelos campos? Parece estranha essa hipótese, mas não seria o mesmo? Não é apenas uma questão de paradigma?

Fico me questionando quantos traumas seriam evitados, quantas sessões de análise canceladas se os pais assumissem o papel de orientadores: informando, auxiliando, acompanhando, sem culpas, sem julgamento, abertos para aprender com as experiências de seus filhos... Deixar que seus filhos vivenciem, aprendam e descubram as suas próprias verdades.

Como as crianças têm medo dos adultos! Como eles lhe parecem enormes e donos da verdade. Desde pequenos já iniciamos uma luta interna entre o que diz o nosso corpo e a culpa. Entre esse impulso fortíssimo, que é a sexualidade, e a vergonha. Mas não se consegue conter o que o corpo pede, é muito grande o prazer que se sente, e a vontade de se fazer de novo... Assim nasce a crença de ser uma criança má, indigna de amor, suja, feia... Talvez isso tudo aconteça mais com as meninas, já que vivemos em uma sociedade machista, onde a sexualidade dos meninos é estimulada desde cedo.
E hoje em dia que alguns pais incentivam a sexualidade nas crianças? Quando vemos crianças de 5 anos fazendo a dança da garrafa, imitando a tiazinha, a mulher melancia e todas as “mulheres frutas” que aparecem o tempo todo. O que pensar sobre isso? Eu, mais uma vez, não tenho respostas pras minhas perguntas...

Qual o quadro de relações que temos nos dias de hoje com essa erotização gigante que a nossa sociedade entrou? Com essa separação do sexo e do amor. Com as mulheres buscando agir sexualmente como os homens. Com as pessoas olhando o sexo como números e conquistas mais do que como a união entre duas pessoas. Onde se perdeu a responsabilidade que deveria existir em relação ao outro... É quase como se o outro fosse apenas um corpo, capaz de satisfazer o seu ego e as suas necessidades físicas. E não, como se essa outra pessoa fosse um ser inteiro, que sente e pensa.
O que eu sinto, é que já quase não se fala mais. Esses encontros casuais de resumem a trocas banais, avaliações físicas gerais, regadas a álcool pra facilitar o processo.

Será que estamos no caminho da evolução? Será que nos tornamos melhores em nossas relações do que a geração dos nossos pais?

Quero, neste ponto, deixar bem claro, que não sou uma pessoa moralista e contra o sexo somente pelo sexo. Acho que cada um faz com o seu corpo e a sua sexualidade o que bem entender e não me cabe julgar. Meu objetivo com esse texto é levantar questões... Só isso. Não pretendo ter resposta nenhuma, apenas parar pra pensar.

Cabe citar uma musica do Gonzaguinha que fala sobre isso “Ponto de interrogação” onde ele diz: “Eu preciso é ter consciência do que eu represento neste exato momento, no exato instante, na cama, na lama, na grama, em que eu tenho uma vida inteira nas mãos”. Olhar pra pessoa a qual vc está transando e ter a consciência de que vc tem uma vida inteira nas mãos e não apenas um corpo... Talvez seja isso o que esteja faltando nas relações sexuais casuais... Quem sabe...

sábado, 10 de outubro de 2009

Inconstante e sempre


Sempre fui uma pessoa inconstante, de fases. Muitas vezes de mudanças radicais em pouquíssimo tempo. Tudo na minha vida é muito imediatista, porque eu vivencio a vida com muita intensidade. Eu acho que  fico buscando eternamente uma melhor maneira de se viver. Encaro a vida como um amplo leque de infinitas possibilidades. Podemos optar por um caminho mais racional, no qual acreditamos saber onde estamos pisando. Ou podemos optar por um caminho mais emocional, instintivo, impulsivo, onde mergulhamos no desconhecido e pagamos pra ver. Muitas vezes a emoção acompanha a razão, nesse caso, seguimos o coração com a certeza de estarmos fazendo a coisa certa... Assim, vamos escolhendo e desenhando a estrada da nossa vida. Ao final temos que lidar com as consequências e assumir a responsabilidade dos nossos atos... Não é assim?

Longe de mim querer resumir em um capítulo toda a jornada da nossa existência, mas é mais ou menos por aí...

Se nos deparamos com escolhas conhecidas, a qual já sabemos onde vamos dar, pode até não ser a melhor escolha, o preço pode até ser alto... Mas geralmente lá vamos nós, pela mesma escolha, velha conhecida, na qual nos sentimos protegidos “pode não ser a melhor, mas pelo menos sei onde vai dar”.

Sou uma pessoa que não se conforma com frases do tipo:"Eu sou assim!”... Estou sempre em busca de saber como realmente sou e de tentar mudar a minha natureza, baseando essas mudanças no que a minha razão me diz que é o certo.... E o que é o certo? Aí é que está a questão, o certo hoje, não é o certo de amanhã. Não existe uma verdade, assim como não existe um caminho. Então cada vez que a minha “verdade” muda eu mudo também!

Sou inconstante, e não entendo como todos nós não somos. Meus amigos parecem achar graça no meu jeito de ser, e deve ser engraçado mesmo, já que até eu rio disso. Mas sou só eu que acordo diferente cada dia? Sou só eu que, em alguns dias, amo ser eu mesma e tudo flui de acordo com a minha razão. Já em outros, passo o dia lutando contra os meus desejos e o que programei pra mim. E em outros, finalmente, entrego os pontos, enfio o pé na jaca e faço tudo o que não deveria fazer... Sou só eu?

Isso vem de uma busca incansável pra reprimir o que não é “certo” hoje, mas muitas coisas que não são “certas” são deliciosas e nós queremos muitoooo e muitoooo, e aí? Que guerra interna travamos todos os dias ao acordar! Lidar com os estímulos que recebemos durante o dia, uma avalanche de desejos reprimidos e vontades proibidas, algumas até impossíveis! E voltarmos pra nossa vida... E seguirmos as nossas rotinas... Como se não tivesse um mundo inteiro lá fora te chamando e te prometendo experiências incríveis. É meus amigos...

Sou sim uma pessoa inconstante, vivo a vida de uma forma tão intensa e dramática que chega a cansar. Mudo de opinião como quem muda de roupa. Mudo a minha vida por inteiro, me reinvento o tempo todo, simplesmente porque estou tentando aprender a viver. Hoje em dia, e cada vez mais, se multiplicam as possibilidades e eu não posso me contentar com uma só. Tenho dentro de mim essa fome de viver, de prazer, de me conhecer, de melhorar, uma busca pela consciência, uma paixão pela vida e pelas pessoas...Não chego a conclusão nenhuma, só vou seguindo assim, no meu jeito atrapalhado de ser, caminhando, correndo, caindo, levandando (não necessariamente nessa ordem) , mas com coragem, seguindo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Que viva a diversidade!


Nos últimos meses tenho passado bastante tempo sozinha. Resolvi encarar o fantasma da solidão de frente e parar de fugir dele. Aprender a conviver comigo mesma e descobrir que tipo de pessoa eu sou. Tenho feito muitas perguntas e encontrado algumas respostas. E, mesmo depois de tanto tempo, ainda acho que levaria toda uma vida pra aprender a conviver comigo mesma.

Sempre fui a companhia que mais neguei e fugi, como o diabo foge da cruz. Um medo enorme de me encarar e não gostar do que se vê. De não ser mais aquela pessoa a qual havia me transformado e moldado pra ser aceita nas rodas sociais. Mesmo deitando a cabeça no travesseiro todas as noites, não desconfiava que havia passado o dia com outra pessoa. Como um casamento de muitos anos, quando vc acha que conhece o seu marido e um dia vc vê que não sabe nada sobre ele. Apenas uma insônia constante, uma angustia que me acompanhava e um grito preso na garganta que sinalizavam que alguma coisa estava fora do lugar. As peças não se encaixavam. Como as pessoas me viam e reagiam ao me verem, e como eu me sentia e me via no espelho. São universos diferentes. Temos o hábito de deixarmos os olhos de fora, das outras pessoas nos dizerem como devemos nos sentir e apontarem, com seus dedos julgadores, que tipo de pessoa somos nós.

Mas então, no silêncio do fundo da nossa alma, não escutamos mais a nossa voz mais pura e verdadeira. Não sabemos mais quem somos.

A solidão, dia após dia, depois do grito de pavor, vem a paz. E volta o grito, e novamente paz...E assim, de grito em grito e se agarrando aos instantes de paz consigo, vamos nos conhecendo e buscando significados mais profundos pra essa questão que sempre me assolou: quem sou eu? A responta não vem, mas vamos conhecendo e manejando nossa personalidade. Essa sou eu, o que diria papai e mamãe se me vissem como eu sou de verdade? Eu seria punida ou parabenizada por me assumir? Provavelmente punida. E vem o medo.

Porque vivemos uma vida dupla, e não poderia ser diferente no mundo de hoje. Onde julgamos e punimos com tanta facilidade! Ora meus irmãos na Terra, que atire a primeira pedra quem nunca pecou... Quem somos nós pra julgarmos alguém? Quem sou eu pra me julgar? Não sei nem quem sou! Não sei o propósito de minha vida na Terra. Tenho voz e não sei que grito devo dar, tenho mãos e não sei qual bandeira erguer. Como posso levantar a mão contra mim mesma, sob qual alegação? Baseada nas leis dos homens? Não, não posso.

Não nasci Barbie, mas desde criança aprendi que  Barbie era tudo o que eu queria ser. A criança imagina que basta chegar na idade adulta e se transformaria na Barbie. A idade vem e a Barbie não. Um sentimento de não ser bonita o bastante, boa o bastante acompanha a vida de todas essas meninas. Tenho os cabelos cacheados e me lembro de ter ganho de natal a susi, uma boneca concorrente da Barbie, de cabelos cacheados, como os meus. Eu chorei tanto! Até a minha mãe trocar pela Barbie loura, como a Xuxa. É, meus amigos, eu não estava disposta a me aceitar não.

Hoje tudo está mudando, temos a Barbie negra,morena, ruiva... E loura. Temos Thaís Araújo, a primeira “Helena” do Manoel Carlos negra, uma negra protagonista da novela das 21:00, acho que devemos ter esperança de que dentro de alguns anos vamos celebrar a diversidade no mundo entre as pessoas e começaremos a respeitar a pluralidade e a individualidade, que tanto enriquece a vida. A natureza é tão rica, tão variada, uma quantidade imensa de tipos de espécies e raças. Imagina se declarassem que só as rosas são dignas de serem flores e de respeito e de admiração? Imagina se começassem a devastar os girassóis, as violetas, as tulipas... Imagina quando, daqui há alguns anos todos estivessem enjoados das rosas e aí fosse tarde demais. Não meus amigos! Que viva a diversidade! Eis que uma bandeira se ergue em minhas mãos!

O início...


Não sei sobre o que eu quero escrever. Esse vazio que antecede a ideia é constrangedor. Nos perguntamos o que estamos fazendo aqui, na frente dessa tela vazia...Vazio... Um fantasma inexistente mas quase palpável de tão concreto.
A chuva cái lá fora. O tempo está ruim há dias. Não dá vontade de sair, de fazer nada. O melhor a fazer é namorar,ver filme, comer besteira, ler, escrever... De modo que estou aqui na frente do computador vendo se me saem algumas mal traçadas linhas que queiram dizer alguma coisa.

Eu gostaria de criar uma obra prima, deixar um legado literário pra posteridade. Eu queria ser a mensageira de alguma coisa divina, ter aquela ideia original, uma peça, um roteiro, um livro... Ma já estou no terceiro parágrafo e só falei sobre banalidades. Veja bem, não tenho nada contra banalidades, aliás acho-as fundamentais pra valorização do seu oposto...que seria... A anti-banalidade, ou algo assim.
E assim, de banalidade em banalidade, envolvidas por algum tédio, vou indo... De parágrafo em parágrafo, seguindo o meu texto. Enchendo-o de palavras e conteúdos. Talvez não seja de uma obra prima, mas o importante é que estou seguindo e caminhando com a minha história.