sábado, 31 de outubro de 2009

Vazio




A vida é cheia de mudanças, de fases. De pessoas e lugares. Épocas, histórias...
Pessoas que chegam, entram nas nossas vidas e passam. É difícil viver e se adaptar, se acostumar com alguém, mas talvez seja mais difícil se despedir e sentir o vazio que aquela pessoa deixou.

Parece um alívio misturado a um sentimento confuso. Uma solidão que se intensifica quando alguém vai embora. Diferente da solidão antes dessa pessoa chegar.

Desejei ficar sozinha comigo novamente, voltar tudo como era antes. Mas as águas de um rio nunca são as mesmas, assim, a solidão é uma nova solidão e precisa de nova adaptação. Recomeçar a conquistar o conforto de estar bem consigo mesma. Um novo começo, uma nova história.

O fim vem acompanhado de uma saudade e um vazio. A alegria de chegar ao fim de uma jornada e completar uma fase significa aceitar a morte de algo dentro de nós. Um luto oculto, velado, subjetivo.

Um ator vive de nascimentos e lutos durante toda a sua vida. O nascimento de um novo personagem, uma nova vida, uma nova fase, e o fim, a saudadee... O vazio.

Dessa forma deveríamos nos acostumar e saber que tudo tem um fim, nada é pra sempre. Mas na prática não é tão simples assim. Em cada nascimento, nos apaixonamos pelo novo e esquecemos que acabará, assim, somos pegos de "surpresa" pela morte, mesmo sabendo o tempo todo que ela nos acompanha, basta nascer.

Tenho uma necessidade de me apegar as coisas e uma dificuldade em passar por mudanças. Sofro muito cada vez que algo termina e tenho de me abrir ao desconhecido. Até que o novo vira conhecido e necessário na minha vida... E tudo recomeça, os ciclos, a roda da fortuna que não para de girar... E a gente tendo que entender que a morte é vida, vida é morte, alto é baixo, baixo é alto, silêncio é som e som também é silêncio... Mas o vazio permanece...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Selvagem



Imagina nós dois sozinhos entre arvores na noite

Imagina o tempo passando e nossos corpos passando junto

Imagina como seria, sem relógio, embalados pelo som de água e das criaturas

Entre a imaginação e a fantasia... Nós dois sozinhos

Imagina como seria se perder em sentimentos confusos

Sem tentar entender nada

Apenas vivendo junto o tempo

O dia que passa e a noite que chega... A noite que passa e o dia que chega...

Imagina dançar ao som das criaturas da noite e nós dois perdidos no escuro uivando

Imagina como seria se pudéssemos mandar ao inferno a realidade opressora

Reescrever a nossa história

E correr como loucos e lobos entre matas e terras selvagens

Shhhhhhhhh

Silencio, escutemos o chamado da noite que chama os amantes

Sim, que me entrego e me atiro ao destino

Que me arraste pelos cabelos me atire e me bata

Sim, que vivo intensamente como uma louca desvairada prenha de amor

Loba gerando a vida, farejando, arrepiando, sem medos, sem pudores

Viva a liberdade de se viver

O amor sem relógio

A vida na selva, o pé no chão, o cheiro de suor, orelhas em alerta... Longe, muito longe de sapatos e sabonetes e palavras e ordens e regras...

Me entrego, de corpo e alma, aos sons enigmáticos das águas e da mata

Das criaturas da noite ocultas

Que me busquem e me arrastem pelos cabelos

Que não sou diferente, distinta de um todo maior

Sou uma e me entrego à essa unidade

Imagina se vc vem comigo nessa aventura louca e desvairada?

Sem medos ou receios

Apenas a entrega certeira da unidade da vida

sábado, 24 de outubro de 2009

numa noite do Rio


Zé atirou em Pedro

Zé olhava um tênis caro

Pedro olhava a lua que surgia

Os olhos de Zé brilharam pela Jaqueta de Pedro

O olhos de Pedro brilhavam de amor pelo tapete estrelado diante dele.

Numa noite de lua, Zé atirou em Pedro.

Pedro, caído, olhava o céu.

Zé corria com seu tesouro.

Na noite de Pedro tinha lua, tinha estrela, tinha poesia

Na noite de Zé tinha sonhos, tinha números e o sorriso de Maria.

Zé não via as estrelas, Pedro as via pela última vez.

Um policial nessa mesma noite, olhou Zé, não olhou Pedro, nem estrelas, nem lua.

O policial olhou o tênis e a jaqueta mas não viu Pedro no chão

Os olhos do policial brilharam pelo tesouro de Zé, mas não viu que os olhos de Zé também brilhavam.

O policial nem viu Pedro, assim não viu os olhos de Pedro que brilhavam pela noite.

Lá se foram os três:

Zé andando sem tênis, sem jaqueta, sem estrelas

O policial levando o tesouro de Zé e a vida de Pedro

E Pedro se foi como a noite, fechou os olhos, sem tênis, sem jaqueta, sem noite, sem lua... E sem vida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

eu leoa


Eu não caibo em mim. Vivo um processo de busca de significado, de sentido da vida. Minha maior luta é domar um leão que tenho dentro de mim. Meus instintos e impulsos que me chegam como uma avalanche de emoções e eu tento conter os estragos. Não sei o que faço com esse lado animal, não sei como domar sem me enjaular ou me isolar do convívio em sociedade... Quem sou eu afinal que carrega essa carga enorme dentro de si? Quem é essa pessoa que convivo há 30 anos e parece um ser fora de mim?

sábado, 17 de outubro de 2009

as maravilhosas pedras do caminho


Lidar com as pedras do caminho é conversar com a vida que te convida a evoluir.

Sempre achei que a vida conversa com a gente. Quando estamos em sintonia com ela, podemos travar um diálogo direto, peguntando, recebendo respostas e, assim, conduzindo nossos atos e pensamentos por melhores estradas.

Quando tudo flui, existe uma chance muito grande de estarmos no caminho certo. Sentimos que as portas se abrem, as pessoas aparecem, coisas acontecem favorecendo nosso próximo passo.

Já quando encontramos obstáculos durante a caminhada, a nossa tendência é maldizer a vida ou qualquer que seja o objeto do nosso atraso. Mas são exatamente as pedras do caminho que nos convidam a conversar com a vida. É exatamente quando ela te obriga a refletir, buscar alguma transformação, alguma mudança de paradigma ou a flexibilizar, encontrando atalhos e meios alternativos pra se chegar onde queremos chegar.

Toda mudança começa observando nossos pensamentos e transformando os negativos em positivos. Um trabalho árduo, constante, artesanal , todos os dias pro resto da nossa existência. Assim, vamos, pouco a pouco, construindo e evoluindo a nossa consciência, caminhando em direção a paz.

Vale a pena viver e se trabalhar e se construir. A aposentadoria de si mesmo é o fim da linha! Não importa quantos anos temos, nosso trabalho de auto-observação e aprendizagem não acaba nunca.

E não há nada melhor do que, ao se contornar uma grande pedra, sentir que a vida sorri... Por isso: Que venham as pedras! O trabalho é grande, mas a recompensa é maior... Quem disse que a vida é brincadeira? Quem acha que viemos aqui pra brincar? Trabalhar é preciso! Então... Que venham as pedras do meu caminho!



No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

shhhhhhhhh





Um copo cai no chão em câmera lenta

O vinho tinto se espalha pelo ar

Barulhos de flamenco ao fundo , batidas de pé no chão e palmas

Vontade de dançar

Um segundo antes e nada teria acontecido

Aqueles momentos fatais que acontecem na vida

Que decidem nosso próximo passo, mudam a direção do nosso caminho

Um copo cai no chão e sons de pessoas me chegam ao fundo

Vontade de ficar quieta, me isolar do mundo, sem respostas e sem perguntas

Fechar as portas e as janelas encerrando-me em um exílio voluntário

Apagar a luz e dormir em paz

Um copo cai no chão, vazio e não quebra

A luz se acende sozinha e não se ouve viv’alma

O mundo dorme

Os diversos mundos vivos se recolheram

Silêncio, shhhhhhhhh

Até que o sol nasça... silêncio shhhhhhh

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um dia...



Um dia eu resolvi morar com um namorado. Juntar as escovas de dentes, como se diz. Me parecia a coisa mais acertada a se fazer, e hoje, voltando o filme, vejo que não poderia estar mais errada. Vejo que eu encobria a minha visão e só via o que eu queria ver. Vejo e Fico impressionada com a capacidade que temos de ver apenas o que queremos ver. Em simplesmente passar por cima de qualquer fato que,por ventura, nos faça questionar algo que queremos muito fazer. Quando queremos muito uma coisa, todos os fatos podem dizer o contrário, mas nos agarramos aos pedacinhos que fazem com que acreditemos que vai dar certo. E, assim, nada, nem ninguém, é capaz de nos trazer à realidade ou de nos demover dos nossos objetivos. A gente precisa pagar pra ver! Pois é... Quando a relação acabou, eu estava devastada, completamente sem chão e sem saber pra onde ir.

Foi então que iniciei uma sequência desenfreada de ações e mais ações, eu não podia parar. Corria de um lado pro outro, de pessoas em pessoas, de bar em bar... Tudo pra fugir exatamente do silêncio que ia me fazer parar pra pensar. Nao conseguia lidar comigo, nao queria ficar sozinha, era muito fantasma pra encarar!

Comecei a me violentar. A agir alucinadamente em busca de prazer e ações grandiosas que me estimulassem e, ao final, era invadida por um pranto compulsivo, uma dor que me contorcia por dentro. Sabe aquele tipo de dor que não para, (não existe uma aspirina pra acabar com dor do coração) dá voltade de tirar o corpo fora, pois seu grito é insuportável. Parece que todos os órgãos, todas as células estão espremidos e não podemos fazer nada, a não ser esperar passar.

Essa época me lembra muito aquela cena do “Forrest Gump” quando ele sái correndo, e corre, e corre, corre mais um pouco e um dia... Para, e simplesmente resolve voltar pra casa. Foi assim que eu me senti. Um dia a dor diminuiu e resolvi voltar pra casa... O caminho de volta pode ser demorado, dependendo do tempo que passamos correndo, do quanto nos afastamos de nós mesmos, da nossa casa.

Eu estava correndo há anos! Me sentia perdida, já não sabia mais voltar. Nem lembrava direito como era estar em casa. Minha alma estava exausta de tanto vagar. Mas aos pouquinhos fui, passo a passo, voltando. Tijolo por tijolo, pecinha por pecinha... E fui reconstruindo uma pessoa inteira e sólida, concreta... Como quando nascemos... Um bebê nasce inteiro! Eu não sabia mais em qual momento da minha vida havia começado a me perder. Em que ponto da minha jornada fui engolida pela vida, como por uma onda gigante, que me fazia girar e girar me levando pra onde quisesse, e eu apenas me deixava levar.

Um dia... Parei de girar e correr. Nesse dia, mesmo fraca e exausta, comecei a me construir, a montar e criar, lentamente a minha casinha. Coloquei uma cama bem macia... E em mais um outro dia, eu deitei com o coração em paz.

Quantas voltas eu havia dado em todos esses anos, pra finalmente chegar ao ponto de não fazer nada e apenas ser. Quantas voltas, meu Deus, quantas fugas pra poder vestir o meu corpo confortavelmente e levá-lo pra viver.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O despertar da sexualidade


Como seria se pudéssemos desenvolver os nossos corpos escutando apenas os nossos instintos? Será que tudo ocorreria na hora certa de forma natural? Desde o dia em que nascemos somos bombardeados com noções de certo e errado, do que é aceitável ou não. Sentimos coisas que não deveríamos sentir, impulsos quase repugnantes. Será que seriam aceitos numa sociedade em que não houvesse certo e errado?

Como seria o despertar da sexualidade se simplesmente ouvíssemos o que o nosso corpo diz? Sem culpas, sem medos, apenas mais uma coisa nova pra se conhecer e descobrir enquanto crescemos. Será que teríamos tantos desvios sexuais como temos?

É um paradoxo enorme numa sociedade que respira sexo, onde vemos uma imagem erotizada em cada esquina, onde, com a internet, temos acesso a todo o tipo de informação, e mesmo assim, não sabemos como lidar com o despertar da sexualidade.
O que me leva a pensar no papel dos pais na educação de seus filhos. Seria o de punir, o de gerar sentimentos de culpa e vergonha, ou o de orientar, informar e acompanhar a caminhada de cada um? Por que será que é tão difícil aceitar que seus filhos são seres sexuais? Em qual ponto não resolvido com a sexualidade deles, faz com que joguem suas frustrações nos filhos. Quando apenas estão seguindo o fluxo natural de seus corpos, assim como comer.

E se, em outra cultura, o vergonhoso fosse comer? Se cada um comesse dentro de quartos fechados, em silêncio, e fizessem amor livremente pelas ruas e pelos campos? Parece estranha essa hipótese, mas não seria o mesmo? Não é apenas uma questão de paradigma?

Fico me questionando quantos traumas seriam evitados, quantas sessões de análise canceladas se os pais assumissem o papel de orientadores: informando, auxiliando, acompanhando, sem culpas, sem julgamento, abertos para aprender com as experiências de seus filhos... Deixar que seus filhos vivenciem, aprendam e descubram as suas próprias verdades.

Como as crianças têm medo dos adultos! Como eles lhe parecem enormes e donos da verdade. Desde pequenos já iniciamos uma luta interna entre o que diz o nosso corpo e a culpa. Entre esse impulso fortíssimo, que é a sexualidade, e a vergonha. Mas não se consegue conter o que o corpo pede, é muito grande o prazer que se sente, e a vontade de se fazer de novo... Assim nasce a crença de ser uma criança má, indigna de amor, suja, feia... Talvez isso tudo aconteça mais com as meninas, já que vivemos em uma sociedade machista, onde a sexualidade dos meninos é estimulada desde cedo.
E hoje em dia que alguns pais incentivam a sexualidade nas crianças? Quando vemos crianças de 5 anos fazendo a dança da garrafa, imitando a tiazinha, a mulher melancia e todas as “mulheres frutas” que aparecem o tempo todo. O que pensar sobre isso? Eu, mais uma vez, não tenho respostas pras minhas perguntas...

Qual o quadro de relações que temos nos dias de hoje com essa erotização gigante que a nossa sociedade entrou? Com essa separação do sexo e do amor. Com as mulheres buscando agir sexualmente como os homens. Com as pessoas olhando o sexo como números e conquistas mais do que como a união entre duas pessoas. Onde se perdeu a responsabilidade que deveria existir em relação ao outro... É quase como se o outro fosse apenas um corpo, capaz de satisfazer o seu ego e as suas necessidades físicas. E não, como se essa outra pessoa fosse um ser inteiro, que sente e pensa.
O que eu sinto, é que já quase não se fala mais. Esses encontros casuais de resumem a trocas banais, avaliações físicas gerais, regadas a álcool pra facilitar o processo.

Será que estamos no caminho da evolução? Será que nos tornamos melhores em nossas relações do que a geração dos nossos pais?

Quero, neste ponto, deixar bem claro, que não sou uma pessoa moralista e contra o sexo somente pelo sexo. Acho que cada um faz com o seu corpo e a sua sexualidade o que bem entender e não me cabe julgar. Meu objetivo com esse texto é levantar questões... Só isso. Não pretendo ter resposta nenhuma, apenas parar pra pensar.

Cabe citar uma musica do Gonzaguinha que fala sobre isso “Ponto de interrogação” onde ele diz: “Eu preciso é ter consciência do que eu represento neste exato momento, no exato instante, na cama, na lama, na grama, em que eu tenho uma vida inteira nas mãos”. Olhar pra pessoa a qual vc está transando e ter a consciência de que vc tem uma vida inteira nas mãos e não apenas um corpo... Talvez seja isso o que esteja faltando nas relações sexuais casuais... Quem sabe...

sábado, 10 de outubro de 2009

Inconstante e sempre


Sempre fui uma pessoa inconstante, de fases. Muitas vezes de mudanças radicais em pouquíssimo tempo. Tudo na minha vida é muito imediatista, porque eu vivencio a vida com muita intensidade. Eu acho que  fico buscando eternamente uma melhor maneira de se viver. Encaro a vida como um amplo leque de infinitas possibilidades. Podemos optar por um caminho mais racional, no qual acreditamos saber onde estamos pisando. Ou podemos optar por um caminho mais emocional, instintivo, impulsivo, onde mergulhamos no desconhecido e pagamos pra ver. Muitas vezes a emoção acompanha a razão, nesse caso, seguimos o coração com a certeza de estarmos fazendo a coisa certa... Assim, vamos escolhendo e desenhando a estrada da nossa vida. Ao final temos que lidar com as consequências e assumir a responsabilidade dos nossos atos... Não é assim?

Longe de mim querer resumir em um capítulo toda a jornada da nossa existência, mas é mais ou menos por aí...

Se nos deparamos com escolhas conhecidas, a qual já sabemos onde vamos dar, pode até não ser a melhor escolha, o preço pode até ser alto... Mas geralmente lá vamos nós, pela mesma escolha, velha conhecida, na qual nos sentimos protegidos “pode não ser a melhor, mas pelo menos sei onde vai dar”.

Sou uma pessoa que não se conforma com frases do tipo:"Eu sou assim!”... Estou sempre em busca de saber como realmente sou e de tentar mudar a minha natureza, baseando essas mudanças no que a minha razão me diz que é o certo.... E o que é o certo? Aí é que está a questão, o certo hoje, não é o certo de amanhã. Não existe uma verdade, assim como não existe um caminho. Então cada vez que a minha “verdade” muda eu mudo também!

Sou inconstante, e não entendo como todos nós não somos. Meus amigos parecem achar graça no meu jeito de ser, e deve ser engraçado mesmo, já que até eu rio disso. Mas sou só eu que acordo diferente cada dia? Sou só eu que, em alguns dias, amo ser eu mesma e tudo flui de acordo com a minha razão. Já em outros, passo o dia lutando contra os meus desejos e o que programei pra mim. E em outros, finalmente, entrego os pontos, enfio o pé na jaca e faço tudo o que não deveria fazer... Sou só eu?

Isso vem de uma busca incansável pra reprimir o que não é “certo” hoje, mas muitas coisas que não são “certas” são deliciosas e nós queremos muitoooo e muitoooo, e aí? Que guerra interna travamos todos os dias ao acordar! Lidar com os estímulos que recebemos durante o dia, uma avalanche de desejos reprimidos e vontades proibidas, algumas até impossíveis! E voltarmos pra nossa vida... E seguirmos as nossas rotinas... Como se não tivesse um mundo inteiro lá fora te chamando e te prometendo experiências incríveis. É meus amigos...

Sou sim uma pessoa inconstante, vivo a vida de uma forma tão intensa e dramática que chega a cansar. Mudo de opinião como quem muda de roupa. Mudo a minha vida por inteiro, me reinvento o tempo todo, simplesmente porque estou tentando aprender a viver. Hoje em dia, e cada vez mais, se multiplicam as possibilidades e eu não posso me contentar com uma só. Tenho dentro de mim essa fome de viver, de prazer, de me conhecer, de melhorar, uma busca pela consciência, uma paixão pela vida e pelas pessoas...Não chego a conclusão nenhuma, só vou seguindo assim, no meu jeito atrapalhado de ser, caminhando, correndo, caindo, levandando (não necessariamente nessa ordem) , mas com coragem, seguindo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Que viva a diversidade!


Nos últimos meses tenho passado bastante tempo sozinha. Resolvi encarar o fantasma da solidão de frente e parar de fugir dele. Aprender a conviver comigo mesma e descobrir que tipo de pessoa eu sou. Tenho feito muitas perguntas e encontrado algumas respostas. E, mesmo depois de tanto tempo, ainda acho que levaria toda uma vida pra aprender a conviver comigo mesma.

Sempre fui a companhia que mais neguei e fugi, como o diabo foge da cruz. Um medo enorme de me encarar e não gostar do que se vê. De não ser mais aquela pessoa a qual havia me transformado e moldado pra ser aceita nas rodas sociais. Mesmo deitando a cabeça no travesseiro todas as noites, não desconfiava que havia passado o dia com outra pessoa. Como um casamento de muitos anos, quando vc acha que conhece o seu marido e um dia vc vê que não sabe nada sobre ele. Apenas uma insônia constante, uma angustia que me acompanhava e um grito preso na garganta que sinalizavam que alguma coisa estava fora do lugar. As peças não se encaixavam. Como as pessoas me viam e reagiam ao me verem, e como eu me sentia e me via no espelho. São universos diferentes. Temos o hábito de deixarmos os olhos de fora, das outras pessoas nos dizerem como devemos nos sentir e apontarem, com seus dedos julgadores, que tipo de pessoa somos nós.

Mas então, no silêncio do fundo da nossa alma, não escutamos mais a nossa voz mais pura e verdadeira. Não sabemos mais quem somos.

A solidão, dia após dia, depois do grito de pavor, vem a paz. E volta o grito, e novamente paz...E assim, de grito em grito e se agarrando aos instantes de paz consigo, vamos nos conhecendo e buscando significados mais profundos pra essa questão que sempre me assolou: quem sou eu? A responta não vem, mas vamos conhecendo e manejando nossa personalidade. Essa sou eu, o que diria papai e mamãe se me vissem como eu sou de verdade? Eu seria punida ou parabenizada por me assumir? Provavelmente punida. E vem o medo.

Porque vivemos uma vida dupla, e não poderia ser diferente no mundo de hoje. Onde julgamos e punimos com tanta facilidade! Ora meus irmãos na Terra, que atire a primeira pedra quem nunca pecou... Quem somos nós pra julgarmos alguém? Quem sou eu pra me julgar? Não sei nem quem sou! Não sei o propósito de minha vida na Terra. Tenho voz e não sei que grito devo dar, tenho mãos e não sei qual bandeira erguer. Como posso levantar a mão contra mim mesma, sob qual alegação? Baseada nas leis dos homens? Não, não posso.

Não nasci Barbie, mas desde criança aprendi que  Barbie era tudo o que eu queria ser. A criança imagina que basta chegar na idade adulta e se transformaria na Barbie. A idade vem e a Barbie não. Um sentimento de não ser bonita o bastante, boa o bastante acompanha a vida de todas essas meninas. Tenho os cabelos cacheados e me lembro de ter ganho de natal a susi, uma boneca concorrente da Barbie, de cabelos cacheados, como os meus. Eu chorei tanto! Até a minha mãe trocar pela Barbie loura, como a Xuxa. É, meus amigos, eu não estava disposta a me aceitar não.

Hoje tudo está mudando, temos a Barbie negra,morena, ruiva... E loura. Temos Thaís Araújo, a primeira “Helena” do Manoel Carlos negra, uma negra protagonista da novela das 21:00, acho que devemos ter esperança de que dentro de alguns anos vamos celebrar a diversidade no mundo entre as pessoas e começaremos a respeitar a pluralidade e a individualidade, que tanto enriquece a vida. A natureza é tão rica, tão variada, uma quantidade imensa de tipos de espécies e raças. Imagina se declarassem que só as rosas são dignas de serem flores e de respeito e de admiração? Imagina se começassem a devastar os girassóis, as violetas, as tulipas... Imagina quando, daqui há alguns anos todos estivessem enjoados das rosas e aí fosse tarde demais. Não meus amigos! Que viva a diversidade! Eis que uma bandeira se ergue em minhas mãos!

O início...


Não sei sobre o que eu quero escrever. Esse vazio que antecede a ideia é constrangedor. Nos perguntamos o que estamos fazendo aqui, na frente dessa tela vazia...Vazio... Um fantasma inexistente mas quase palpável de tão concreto.
A chuva cái lá fora. O tempo está ruim há dias. Não dá vontade de sair, de fazer nada. O melhor a fazer é namorar,ver filme, comer besteira, ler, escrever... De modo que estou aqui na frente do computador vendo se me saem algumas mal traçadas linhas que queiram dizer alguma coisa.

Eu gostaria de criar uma obra prima, deixar um legado literário pra posteridade. Eu queria ser a mensageira de alguma coisa divina, ter aquela ideia original, uma peça, um roteiro, um livro... Ma já estou no terceiro parágrafo e só falei sobre banalidades. Veja bem, não tenho nada contra banalidades, aliás acho-as fundamentais pra valorização do seu oposto...que seria... A anti-banalidade, ou algo assim.
E assim, de banalidade em banalidade, envolvidas por algum tédio, vou indo... De parágrafo em parágrafo, seguindo o meu texto. Enchendo-o de palavras e conteúdos. Talvez não seja de uma obra prima, mas o importante é que estou seguindo e caminhando com a minha história.