quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seu moço



Moço, larga mão do olho, acaba com esse olhar de rabo de olho que acaba me levando.
Já pensou se quer levar?

Moço, não me chegue assim calado no alto dos anos da sua vida falando, no silêncio, que sabe coisas de se fazer. Falando manso, com a tranquilidade de quem sabe ganhar. De quem já ganhou muito.

Não moço, não me olhe assim nos olhos, não encare tanto os meus que, coitados, têm menos anos que os teus. Não têm ainda o preparo contra a malícia de moços mais velhos e... Casados!

Seu moço, faz favor de se virar, faz favor de falar, é que coisas faladas são mais fáceis de se lidar. E vem vc me colocar nesse seu carro de gente grande e vou na frente como minha mãe ia. E vc dirige como meu pai dirigia. Ai moço, me coloca nesse lugar não! É maior que princesa, o lugar onde via minha mãe. Tô menina, regredi. Mas vc não é meu pai, é moço grande!

Ai seu moço, que escuta meu falar de menina, e escuta galante, e escuta escutando, e conversa com os olhos. E eu falo me desculpando, esse lugar não é meu, será meu se eu seguir o seu canto. Ai de mim que não posso, moço vc tem aliança, grande, enorme junto desse volante.

E te vejo num viajar, de casal adulto. Te vejo em um lar de gente grande. Lá não sou a filha e sim a mãe e esse lugar combina com minha imagem do sonhar.

Ta seu moço, obrigada pela carona. Condução era difícil essas horas.

Ai seu moço, abre a porta do carro não. Isso me lembra os príncipes naqueles cavalos grandes me pegando firme preu não cair. Ta moço, tchau. Desculpa, mas vou correr. Fugir pra bem longe, entrar no meu canto, no meu mundinho, me fechar em copas com minha menina. Mas amanhã e depois e depois vou te ver. Ai que medo de vc!

terça-feira, 26 de abril de 2011

É que...



É que me sinto atolada no meu caminhar e em meus atos impensados. Não tão impensados, mas agidos e reagidos. É que me sinto tão paralisada num momento em que a vida corre. Me sinto correndo atrás de um foguete. E aprendo a pensar em um passo de cada vez. E tropeço nos meus passos. E não admito erros. É que eu erro.

Erro e quero pensar que o erro foi pro bem, mas não deixo de pensar na opção do outro erro, já que não existe o certo. E se tudo fosse diferente? Sabe aquela mudança de um grauzinho na navegação que te faz avistar outro continente? Outro planeta? Outra vida? Outra pessoa?

É que não me deixa o pensamento da teia que rege a vida. E eu fico a pensar e calcular seus caminhos. Algumas vezes tem lógica, pelo menos eu a encontro. Sabe quando o ar te deixa claustrofóbica pela simples realização de estar vivo? De estar preso a um corpo, a um ser, uma personalidade e uma existência. E se eu quisesse me livrar de tudo isso, pra onde iria eu? Eu... Esse ser que me acompanha, esse corpo com identidade, com nome. Não sei de onde vem, mas tenho um apego a ele, tenho um medo de o perder.

É que me agarro ao meu Ego como me agarro em um galho pra não despencar, como se me agarrasse à única coisa concreta que faz algum sentido no que vejo. Mesmo que não tenha nada de concreto, mesmo que me sinta um estrangeiro em meu corpo, no lidar com a vida, no caminhar com meus pés.

É que pessoas me chegam de diversas partes, carregadas com histórias, com traumas, bloqueios. Me sinto navegando entre náufragos e me dou conta de que sou mais um a lutar contra o afogamento. E percebo que uns bóiam tranquilamente nas ondas desse mar revolto. E me paraliso ao pensar que esse mar tem fim, que ele tem vida, que se move. E tudo vive, e tudo estava aqui antes de mim, e tudo é tão grande!

É que esse texto não serve pra nada. É que eu não sei porque o escrevi, mas é que, por teimosia, insisto em escrever... Mesmo não sabendo o que dizer, mesmo só perguntando e nunca respondendo. É que me faltam as respostas e me sobram as perguntas. É que...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Da série: Aprendendo a ser só. "E MARIA CHORA"



Maria saiu num domingo com amigos, entre eles estava um flerte não concretizado. No Sábado tinha dado uns beijos num gatinho que estava interessada desde tempos antigos. No domingo tinha esperado algum recado dizendo como tinha sido boa a noite, querendo vê-la novamente... Essas coisas que geralmente mulheres esperam. Nada de recado! Nem um alô, nenhuma mensagem até a noite desse domingo, quando Maria resolveu sair com amigos.

A cerveja rolava solta, as garrafas vinham, esvaziavam e eram trocadas por outras cheias. Os copos não ficavam vazios, o papo fluía e o tom aumentava a cada rodada. Uma noite divertida. A carência da falta de notícias de sábado camuflada pela alegria do álcool.

Maria é uma mulher interessante, tem vários homens que dariam tudo pra ficar com ela, outros que dariam o mundo por ela. Ela não daria nada por nenhum deles. Os que ela daria não parecem dar nada por ela. É uma falta de sintonia e comunicação que parece dominar essa geração. E Maria segue se divertindo algumas vezes com os errados, matando um pouco da carência que a domina em alguns momentos, às vezes aumentando a solidão que sente com o objetivo de diminuí-la.

Arrastou o flerte do dia pra cama e começou como uma leoa no cio, dominadora, engolindo o macho indefeso. E o jogo vira. O macho entra na jogada e domina a fêmea, a penetra de forma rude, achando que é isso que ela quer. E era isso que ela queria. Mas não queria mais. Maria vai se sentindo pequena e agredida, seu corpo se fecha e desarma. Toda a emoção camuflada vem a tona e Maria chora.

Maria se lembra de todas as vezes que homens a penetraram quando ela não queria e quando ela consentia, quando ela tinha medo de dizer que não. Seu corpo guarda a lembrança de homens que entraram sem bater, invadiram seu corpo com sua boca dizendo sim e sua alma gritando não.

Então Maria chora. Os bichos viram pessoas, O leão lhe dá colo e a leoa vira uma gatinha acuada indefesa, exposta. Colo. Era o que Maria queria desde o início. Não queria sexo, não queria álcool, não queria dominar nem ser dominada, queria colo. E Maria chora.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

saber “dessaber”



Eu queria saber “dessaber”

Saber às avessas

Saber esquecer o que soube saber

É mais fácil saber, mais difícil esquecer

E sei da loucura dos artistas

E sei da minha loucura

Que “desenlouquecer” é trabalho pra toda uma vida

Saber da loucura é colocá-la ao alcance da mão

“Dessaber”, “desenlouquecer” é fazer o caminho inverso, é desaprender

É virar Picasso, dando seus passos para trás.

É virar Van gogh e tirar uma parte sua fora.

Qual “dessaber” escolher na trilha da loucura, quando esse bicho te engole

Ou quando, na razão, se enjaula a Fera sem enjaular a sua arte.

Eu quero saber “dessaber” um monte de coisas que sei.

Eu quero saber beber dessa fonte sem mergulhar nesse poço

Sem mais me atirar nesse buraco sem fundo que tenho dentro de mim

Não ser a Fera, mas a Bela que ama e sabe da Fera... Que nada mais é do que a própria Bela...

É ver a beleza no retrato de Dorian Gray que carrego comigo.

É beijar a minha Fera e amar a minha loucura que alimenta minha arte.

É saber “dessaber” tudo que me obrigaram a saber, do jeito que tinha que ser.

É alimentar meu lado negro, é admirar meu lado feio, é levar minha Fera pra passear.

É olhar pra mim e me orgulhar.