quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hoje acordei com o interfone, o porteiro disse: "Campainha Toque-Toque"


Acho que tenho toque

Mania de toque

Me toco das coisas num toque

Observo o último retoque

Espero que o mundo me toque

Tenho certeza de que tenho toque

Sozinha me toco

Nos momentos, acho que me toco

Espero que me toque

É bom quem se toca...

Com meus pés o chão eu toco

Na mente não toco

Voando não sei se toco

Mas sinto quando vc me toca

Adoro seu toque

quarta-feira, 21 de abril de 2010

da série aprendendo a ser só


Eu acreditei que seria até a morte, que nada, além da morte, acabaria com esse amor. Onze anos de casamento e nenhum filho. O sonho de ser pai sempre esteve presente, como um fantasma que rondava pelos cantos da nossa casa. Eu tantas vezes maldisse meu corpo, meu ventre e minha feminilidade por não dar ao meu homem o que ele tanto queria. Um filho! É pra isso que um corpo de mulher é feito! Que mulher sou eu que não posso gerar um filho? Sou mulher, a sua mulher e vc é meu, meu homem... Só nós dois e ninguém mais... Nenhum filho.

Agora esse fantasma me persegue dentro de mim, nos meus pensamentos, nos meus pesadelos e no fim do nosso casamento... 48 anos, prazo de validade vencido, é definitivo! Me sinto cercada, acuada, sem saída. Só me resta ir embora. Largar onze anos de vida, onze anos de história, onze!

Ai minha mãe! Que morreu com a minha idade de dor de amor! Mãe, dai-me a força que não encontro, não sei se tenho. Ilumina os meus passos no recomeço de uma vida tardia. Qual direção tomar? Pra onde devo ir? Estou prestes a destruir a minha casa e ficar ao relento, sozinha na imensidão do mundo. Preciso caminhar em direção ao meu coração e descobrir a proteção de um teto novo, que me acolha até a tempestade passar. Preciso, eu mesma, me abrigar da fúria do destino, desse vendaval que sopra levando cada pedacinho construído com tanto amor de onze anos de vida.

Paralisada, contemplando a destruição de mim mesma e, sem saída, parar e parar e olhar, contemplar. Dou adeus a cada parte e estremeço quando vejo o fim inevitável, falta pouco pra voar.

Como se faz isso, mãe? Como se aprende novamente a andar com meus pés, a tomar as minhas decisões sem os braços desse homem, que ainda amo, pesando, confortando, sobre meu corpo enquanto durmo? Existe saída pro renascimento depois de uma morte violenta?

Estou fragilizada e desamparada. Um corpo estendido no chão de uma casa abandonada em posição fetal. Espero que uma luz divina entre pelos buracos no alto e arranque do meu corpo essa dor que me consome. É preciso se reerguer, preciso me levantar e comer, mas não aguento o peso de meu corpo, não sei mais como ele funciona. Perdi o manual dessa máquina abandonada de matéria condensada. Meus movimentos já não me pertencem e não sei como me vejo caminhando pelas ruas sem destino, por uma cidade que não reconheço mais.

Passo a passo, meus pés caminham sozinhos, não me dizem onde me levam e apenas deixo que me levem.

Como pode que esse dia tenha chegado? Se me vi tantas vezes em idades avançadas com vc ao meu lado, em coisas banais de velhice, do cotidiano de quem passou uma vida junto. Como pode vc agora vir me falar de vôos mais altos, de novas experiências onde eu não participo, não faço parte. Como pode vc não me reconhecer e me falar de separação? Não sabe mais quem sou eu? Com qualquer outra vc poderia falar assim... Mas eu sou aquela que te conhece como nem mesmo vc se conhece, aquela que respira o ar que vc não quer mais quando dorme. Sou aquela que dorme embriagada pelo seu hálito adormecido. Sou aquela que não sabe mais viver sem vc. Sou eu, essa mulher pesada, se arrastando pelas ruas de uma cidade estrangeira, sem destino, sem controle, sem lembranças de mim antes de vc, sem a menor idéia da mulher que fui ou posso ser.

Mãe! Vc está me ouvindo? Me coloca no seu colo, preciso dormir, preciso de paz. Mãe, seu amor consumiu o seu corpo e buscou a morte com 48 anos. Será esse o destino das mulheres da nossa família? Uma espécie de karma de gerações? Estarão meus pés me levando ao seu encontro? Já não sei mais onde estou.

Não posso, não quero! O resto de lucidez que ainda possuo me faz desejar a vida e um átimo de esperança que me resta me faz sonhar, mesmo que por segundos, com um dia melhor. Acredito que tenho um poder de mulher, que acompanha todas as gerações de bruxas pela história do mundo. Mesmo que esse poder não apareça mais em nenhum sol de dia, ou em nenhuma noite de lua, mesmo assim, essas mulheres não abandonam uma filha indefesa e sopram seus cantos nos meus ouvidos, até que eu possa recuperar a audição. Sopram, com paciência feminina, palavras de amor e esperança até me fazerem dançar a dança do universo que só as mulheres conhecem.

Ah mãe! Agora silêncio! Que eu entregue esse corpo estranho aos braços das horas e que ele descanse pra mais alguns minutos de paz. Sonhando com lembranças de uma vida ao lado de um homem passado. Que o prazer dos sonhos me sustente por mais algumas horas, que seja. É neles onde encontro forças pra chegar até a próxima noite.

Espero por um dia em que eu acorde e saiba viver só. Em que meus braços me acalentem como os dele faziam, e que meus pés me levem onde eu deseje estar. Um dia onde eu olhe meu reflexo em algum lugar, em um momento qualquer, e reconheça a imagem de uma mulher que sou e nasci pra ser.

Silêncio minha mãe! Que amanhã recomece o seu canto, as suas palavras ao meu ouvido, até a noite seguinte, e assim por diante, até o dia em que, erguida, cantarei seus versos pra outra mulher. Seguimos assim, descobrindo que ser mulher é gerar e dar vida aos seres, seja essa vida em palavras, em magia ou em filho. Mesmo sem gerar o filho de meu homem, eu gero vida pelos caminhos e buracos dos meus passos. E isso ninguém apaga ou me tira... Agora silêncio! Que eu sonhe por uma noite!

Caminhando, pensando e seguindo


Ando viajando pela vida. Ando surfando por aí

Ando navegando por mares distantes e aprendendo o que posso com meus passos.

Filha da vida e do mundo, sozinha, to na estrada...

Acho que falo demais, acho que desejo demais, sou exagerada demais, tudo é demais em mim

Se é pra sofrer, então vamos sofrerrr
Se é pra beber, então vamos beberrr
Se é pra amar, então ...

Em cada lugar novo que chego encontro pessoas novas. Nasci na estrada, ela é a minha casa...

Acho que fui cigana em outra vida.

Também acho que já fui sereia e minha mãe é Yemanjá

Em um porto de minhas andanças ela me foi trazida por um homem desconhecido, que perdeu a fala ao me ver, só consegue me escrever e escreve coisas de amor sem me conhecer.

Em uma tempestade perigosa me levaram ao seu encontro e fez-se a calma, a paz
Em um sonho de uma amiga eu me casava de azul como Ela, mãe Yemanjá.

Quando nasci me deram um de seus nomes e ela me abençoou com sua força

Sem porto seguro e sem destino certo continuo o meu tropeçar vagabundo pela vida

Uma hora aqui, outra acolá

Lugares que se contradizem, um anula o outro e confundem meu caminhar.

Mas quero demais, quero o ouro e o branco... E também o negro, o obscuro

Costumo me perder em meus desejos, quero demais, demais, tudo é demais da conta em mim

Eu talvez não saiba que sou apenas uma e quem sabe não seja mesmo

Não sei de nada, sei que ando viajando pela vida e sei que nasci pra navegar.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Se eu roubei teu coração Foi porque Só porque te quero bem


Acordo de um sonho violento, de uma noite mal dormida

Encaro pesadelos de fora e sonho com seus inimigos

Sou você nos meus sonhos

Corro de pessoas e situações que não me petencem

Que chegam na minha vida e me pergunto: o que tenho a dizer?

Quais são as respostas certas pra uma angustia que me cerca?

Encaramos os fantasmas eternos de toda existência, viva, que respira

E seus monstros já não são tão estranhos assim

Exercitamos nossos exércitos, mantemos eles em forma, “just in case”

E nunca os usamos, pois, na hora “H” corremos da raia como crianças acuadas.

Por que se preocupar tanto em ser ou ter, o que esperam da gente?

Já não separo mais os meus pesadelos dos que me chegam

E suo, e grito, durante toda noite, a sua loucura.

Onde terminou a minha e começou a sua, ou a dela?

Depois de sonos e mais sonhos, ando pelas ruas sonhando

Esbarro em pessoas dormidas, que me olham, olhares de fora, iguais aos meus

Me identifico com os seres que vagam pela cidade fugindo da noite anterior, com seus exércitos adormecidos e seus poderes paralisados pelo medo.

Somos apenas um e os mesmos

Todos acordados, nessa interseção que é o momento de vigília
e a próxima noite

Nos olhamos e não nos vemos, sentimos e não entendemos.

A sua dor me é simpática

E grito sem som, todas as dores do mundo que me chegam e me tocam sem eu saber.

Inimigos indefesos, sem cara, sem expressão, sem máscaras, apenas caos e matéria informe.

Quero abraçar a todos, quero colocar todos pra dormir no meu colo e cantar uma música de amor.

Ah se eles soubessem o que eu sei, ah se eu soubesse o que eu sei...

Sei tanto! Mas existe um abismo mortal entre o que se sabe e o que se pratica

Sei o que devem fazer, mas sei que eu não saberia fazer.

Então o que eu tenho a dizer pra alguém? Nada!

Só posso te colocar no meu colo e te fazer dormir, cantar uma música que fale de amor e esperar que sejam esses os seus sonhos dessa noite.

E, amanhã, quando encontrar seus olhos apavorados, perdidos pela cidade, fugir desse encontro

Pra que vc não veja o medo que tem dentro de mim, os meus, os seus, os de todos
Pra que me mostre forte, mesmo sem ser.

E pra que o seu olhar não descubra a fragilidade que escondo nos meus olhos.

E assim, eu possa seguir sofrendo a dor do mundo e amparando os seus devaneios, te trazendo a paz que não tenho, mas ainda posso te dar.

Pra que vc durma um sono tranquilo, mesmo que o meu não seja.

E que eu grite um grito de dor sem som, pra não te acordar.

Que eu desperte meu exército adormecido pra te defender.

E que alguém, no mundo, pelo menos por uma noite, sinta esse amor e durma em paz.





Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar
Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Foi porque
Só porque te quero bem