quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aos artistas das sombras



Muito obrigado

Obrigado por essas palmas
Que me fazem, ao menos por esse instante,
Amenizar o peso do fracasso que curva meu corpo.

Aqui neste palco de sombras
De ilusões
De sonhos...
Sonho.
Tentei minha eterna
última chance

Errei meu número
... peço desculpas...
Perdão por não ser o que vim ser
Perdão por não chegar onde vim chegar
Peço perdão assumindo meu fracasso... Recebo aplausos caridosos e, aceito sorrindo, o sorriso dos palhaços.
Carente, como todo artista, me contento com suas palmas.
Quero dançar nesse som, quero me expressar na sua piedade.

Obrigado por amenizar a dor em meu peito que acompanha minha jornada de artistica
Artista sem arte
que mobiliza uma força inexplicável de apenas ser artista, que acredita no som ilusório do seu aplauso.

na esperança de escutar mais uma vez esse som, que me alimenta os sonhos, peço perdão pelo meu erro. Sei que te constranjo, sei que te intimido, mas, perdão, preciso desesperadamente escutar suas palmas.

Por caridade, não me neguem um desejo de quem nada mais tem pra desejar.
pelo perdão do meu fracasso
peço uma salva de palmas pra quem está nu, num palco, implorando amor e compaixão.

Assim!
Obrigado!
Sim! Sou um artista das sombras
Aquele que apenas sonha
Aquele onde a arte é maior do que sua habilidade pra exercer
Aquele que ninguém vê
O qual seu único sonho é ser visto.

Em minha roupa simples
Meu sapato roto, minha cara marcada
Meu olhar vazio
Sou aquele amante sombrio da arte
Aquele escondido, aquele que se tem vergonha de amar

Perdoem-me
Perdão por estar aqui
obrigando-o, obrigado, perdão por me assistir
Me dê uma esmola, por favor
Não sei o meu valor
Sua palma paga a ilusão do artista, mas o corpo precisa de pão.
Sua palma alimenta minha alma, mas o corpo não mais se sustenta com poesias rasgadas.
Nada mais tenho pra lhe dar, além do meu perdão pela necessidade de aqui estar.
Sem essas luzes não resisto, sem suas palmas não durmo e sem sua caridade não como.

Canto uma ópera
recito um poema
toco um instrumento

conto uma piada
posso cair no chão,
posso dançar
me façam de palhaço, me usem!
quero ouvir a sua risada, mesmo que de mim e não por mim... Mendigo...
Mendigo seu aplauso, mendigo seu sorriso, preciso da sua esmola.

Quando, por pena, você se aproxima,
me elogia,
mentindo por amor
não lhe olho nos olhos
me distraio, me distancio.
É que suas palavras me fazem viajar na mentira, enquanto seus olhos me batem com a verdade.
Preciso de suas palavras, evito seus olhos. Seu som me levará ao dia seguinte, a verdade me paralisa.

Perdoem a mim e perdoem a todos nós
Todos os artistas de sombras vagando pelas esquinas
Pelos becos escuros da cidade.
Sou o menor abandonado
O mendigo que vaga
O bêbado caído
A sombra da sociedade

no palco das sombras
um mendigo, menino
... de rua ... da arte...


Sendo assim... Perdão!!

Ahhh o aplauso!

Uma reverência...

... Muito obrigado.

Nenhum comentário: