sexta-feira, 9 de julho de 2010

Tabu

Vi o filme “Tabu” essa semana e fiquei com ele na cabeça durante vários dias. O filme mexeu muito comigo e não conseguia entender exatamente de que forma.

Fiquei pensando no que significa a puberdade da menina e as diferenças dos meninos. Porque, nessa fase, a criança não tem apenas que lidar com as mudanças que acontecem no próprio corpo e na cabeça, ela tem que lidar com o impacto dessa transformação dentro da nossa sociedade.

A menina começa a ter corpo de mulher, mas ainda não sabe lidar com ele. Sente desejos, descobre sensações, percebe como o seu corpo desperta atenções e começa a experimentar o seu poder de sedução.

Mas, na nossa sociedade, os homens olham pra essa menina desabrochando e sentem desejo. É o mito “Lolita”. A menina se sente poderosa com essa atenção que recebe do universo masculino, mas não sabe medir as conseqüências dos seus atos. Tudo fica ótimo, como uma nova brincadeira. Mas homens adultos não estão brincando.

É um disparate, já que meninos quando estão nessa mesma fase não recebem essa atenção das mulheres. Que eu saiba, não olhamos pra um menino de 15, 16 anos e o desejamos ardentemente. O que me leva a pensar que esses meninos até gostariam que isso acontecesse.

Essa transformação é muito diferente mesmo, e as conseqüências que ela acarreta. Mas o que ficou mais marcado em mim é como as meninas são reprimidas pelos adultos. Como eles têm medo de lidar com o “poder” de sedução dessa menina e o impacto que esse “poder” tem. Acabam estimulando a esconder os seus desejos e em não seduzir nada nem ninguém, porque as conseqüências disso são muito graves (também pra eles, os adultos). Seja a mãe, que sente ciúmes do seu namorado e vê a filha como uma rival; seja pro pai, que tem medo de ver a filha como objeto de desejo e teme pela reputação dela.

Eis que uma menina de 13 anos já é vista como uma mulher (as meninas amadurecem mais cedo). Ela sente vontade de experimentar tudo o que o seu corpo está pedindo. Sente que é linda porque o vizinho casado está de olho nela. Começa a gostar da brincadeira de sedução e, sem a orientação de um adulto, não tem consciência do que está acontecendo. Orientação e não repressão! A brincadeira é séria, e quando ela tem suas conseqüências, a menina leva um susto e não sabe lidar com elas.

Quantas meninas já passaram por isso? E geralmente, quando coisas desse tipo acontecem, se escuta: A culpa é sua! É você que fica usando esse decote! É você que fica se exibindo! – Temos que lidar com várias culpas que colocam dentro de nós simplesmente por ser mulher... Não é bizarro isso?

Então: Não podemos provocar, não podemos usar roupas que mostrem algo que possa despertar o desejo do macho, porque, se isso acontece, a culpa é sua!

Não é de se admirar que sexo, ou melhor, estupros aconteçam e se diga: mas ela queria! (Lolita)... O que é preciso entender é que, uma menina de 13 anos, acha que quer, ou acha que deve querer (é muito confuso tudo isso), só que ela não está preparada pra lidar com o que tudo isso representa.

Enfim... Só gostaria que as mães se preocupassem mais em orientar suas filhas no modo de lidar com a sexualidade e a sensualidade sem reprimir a sua forma de ser mulher no mundo. Que os homens se tocassem de que, por mais que pareça uma mulher, ela é uma criança que está trocando a brincadeira de casinha pela de sedução. Que as meninas não crescessem reprimidas procurando se esconder do mundo pra não provocar reações extremas na sociedade. E que, sexo com criança, é estupro sim, mesmo que pareça que ela sabia o que estava fazendo. E que os adultos fiquem do lado delas e não achando que são culpadas por provocarem isso ou aquilo... Vejam esse filme!

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa fase realmente é muito complicada para a mulher. É uma transição difícil. Começar a se sentir mulher, ver o corpo se transformando, se sentir poderosa ao perceber que está despertando o desejo dos homens... e por outro lado também ter desejo, molhar a calcinha só de pensar em um cara... Ah... e os primeiros agarrões? Lembra? Nada mais delicioso do que ficar naquela agarração eterna, descobrindo o próprio corpo, morrendo de tesão mas ainda sem ter se decidido a transar.
E aí vem o problema que você coloca muito bem. No meio desse caminho de descoberta de repente chega um apressadinho que não percebe que por mais que a moça se mostre como mulher, ainda não é.... E pronto, enorme estrago feito. E essa do "a culpa foi sua" rola demais... e é o fim da picada. Não, não foi. Por mais que uma menina de 12, 13, 14 anos se julgue senhora das próprias pernas, ainda não é. Então, se for para jogar a culpa em cima de alguém, que seja no bronco que não percebeu isso.
E sim... cuidado, conversa, orientação são super bem-vindos. Repressão, não.

Beijos,
Deb.

Jana disse...

É isso! Quantas meninas passaram por experiências desastrosas nessa fase? Só eu conheço várias...

Encantadora disse...

Sábias palavras, excelente reflexão sobre um assunto tão atual e, infelizmente, muito pouco discutido.
Aproveito pra agradecer a delicadeza da sua visita no meu mundinho, volte sempre! Beijos... Paz e Luz!