quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pensando sobre o medo

Instinto de sobrevivência vem acompanhado de medo. O medo é fundamental pra que se proteja de situações onde nossa vida pode estar em risco, ou de outros seres. Quando vivíamos em selvas e em cavernas, tendo que fugir de ataques inesperados e tendo que lutar pelas conquistas básicas de subsistência, foi o medo que garantiu que chegássemos vivos até os dias de hoje.

As lutas que travamos na atual sociedade não são as mesmas daquela época, mas ainda possuímos os mesmos medos e instintos de preservação.

Quando uma loba prepara seu filhote pra vida ela o expõe ao perigo algumas vezes para que ele desenvolva o medo e saiba fugir e se defender. Ela aguça o instinto do filhote, e o prepara pra se defender e ser independente.

Quantas vezes ouvimos adultos falando com crianças pelas ruas, ou até dentro da nossa casa: “Não faz isso que o moço briga!” “não vai lá que o monstro pega!” “Se não dormir o bicho papão vai te pegar!”... Parece que, no nosso caso, mantemos as crianças “na linha” criando medos desnecessários e assim elas dão menos trabalho. Assim elas não vão além do nosso limite confortável e o medo instintivo da criança delimita o espaço de ação dela e o trabalho que se tem em acompanhar e proteger a criança.

É claro que não estou me referindo aos casos em que a criança está realmente exposta ao perigo.

Uma vez me contaram um caso de um índio que estava fazendo artesanato de barro e seu filho estava do lado mexendo. O índio não falava nada, mesmo sabendo que uma criança estava segurando um objeto quebrável. Claro que o objeto caiu e quebrou. O índio nada falou. Perguntaram pra ele o porquê dele não ter falado nada e ele respondeu: “agora ele sabe que quebra.”

Mesmo não vivendo mais em cavernas e entre bichos selvagens, parece que preparamos nossos filhotes pra serem presas ou predadores. Ou com excesso de ingenuidade ou com requintes de esperteza. Mas em todos os casos o medo continua presente dentro de todos nós.

Não é à toa que a síndrome do pânico se instalou no nosso século, atingindo todas as camadas da nossa sociedade, independente de classes. Talvez estejamos lutando contra inimigos ocultos de todos os lados, e nos sintamos como “cegos em tiroteio”, acuados, sem saber o que fazer ou como se defender.

“Ter medo é ser fraco”, é assim que aprendemos. Se nos deparamos com algo que gera medo, a atitude comum é fingir que ele não existe e “bola pra frente” “enfrentemos nossos medos e seremos vencedores”... Mas o medo existe e não é racional, é instintivo. Se ele não é respeitado pode crescer desmedidamente e se tornar um monstro gigante, aí passamos a ter medo do próprio medo. Aí o medo te faz paralisar diante de você mesmo.

Temos medo da morte e é esse medo que faz com que continuemos vivos. A natureza é sábia! Se aceitarmos que o medo é natural e é uma coisa boa, talvez ele jogue no nosso time. Se respeitarmos o direito que o outro tem de temer algo, mesmo que pra você seja bobo, passaremos a conviver com o medo de uma forma mais pacífica.

Talvez...

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