quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por que não o vermelho?

E foi assim...

João nasceu num mundo onde só se podia gostar do azul. Desde pequeno se sentia atraído pelo vermelho e era constantemente reprimido por seus pais.

João começou a negar o vermelho, fazia de tudo pra gostar do azul, algumas vezes até chegou a acreditar que seria como os outros... Mas o vermelho o perseguia, sempre cruzava seu caminho, parecia obsessão. Sua atração era cada vez maior e mais incontrolável. Quanto mais lutava contra ela, mais ela crescia.

João cresceu nesse mundo azul e passou a adorar o vermelho, escondido, em segredo. Seus armários eram revestidos de um veludo avermelhado, pelas ruas andava vestido de azul, mas em casa dormia em vermelho. Falava azul e sonhava vermelho.

João procurava em livros e em terapias o motivo de seu "distúrbio". Uma explicação, alguém que lhe desse uma luz sobre o que acontecia com ele. Passou anos lendo e relendo estudos científicos, teses e palpites, mas nunca encontrava uma explicação plausível pro seu problema...

Qual sociedade está preparada pra aceitar o não aceito?

Por que será que estamos condicionados a acreditar que homem gosta de mulher e mulher de homem? Será que tem relação com a mera reprodução da espécie? Não é tão simples entender que cada um gosta do que quiser?

João passou anos da sua vida achando que era uma aberração, só porque gostava de vermelho. Viveu uma vida dupla e nunca conseguiu viver plenamente a sua juventude e curtir e namorar e viver o que tinha vontade de viver. É necessário que jovens passem por esse sofrimento todo, tentando se adequar às exigências, ao que se espera que eles sejam, façam ou gostem?

Quando uma criança nasce ela pode ser destra ou canhota, imagina se a mãe força o filho a usar a direita porque "é aceito". Cada vez que a criancinha pega a colher com a esquerda, a mãe vai lá e põem na direita. Agora imagina que cada vez que ela faz isso ela diz: "Feio!"...

E se na nossa sociedade fosse natural o sexo entre pessoas do mesmo sexo e a reprodução tivesse uma conotação de amizade, independente das relações? As pessoas se relacionariam e em determinado momento se juntariam por afinidades outras, apenas com o objetivo de procriar. Talvez fosse muito mais simples, já que não haveria divórcio e nem conflitos de relacionamento durante a criação dos filhos. Amigos se unindo pra terem filhos juntos, cada um com seus amantes do mesmo sexo. Seria tão absurdo pensar isso? Não seria apenas uma questão cultural?

Se assim fosse, eu, que sou mulher e gosto de homens, seria uma "errada" nessa sociedade. Provavelmente estaria casada com uma mulher, como “manda o figurino”, e estaria infeliz. Ou estaria com um homem, em segredo, vivendo carregada de culpa e medo de que descobrissem a minha outra identidade.

Tudo por paradigmas, tudo porque não abrimos a nossa cabeça e não aceitamos o diferente como sendo apenas diferente, e não: certo ou errado.

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