domingo, 22 de novembro de 2009

amor de homem


Pai, vem dançar comigo. Deixa eu pisar no seu pé!
Vamos brincar de pique-esconde?
Assovia pra eu te achar.
Pai, autos, autos na brincadeira
Meu pai é o homem mais bonito e mais forte de todos.

Busco esse mesmo homem nas esquinas tortas da vida
Busco tanto e sempre, cegamente... Nenhum me parece ter as qualidades necessárias às que busco.
Busco, e quanto mais busco menos me aparece o objeto da busca... Que talvez nem saiba mais qual seja.

O selo cravado em minha alma por meu pai, o carimbo escrito em minha infância, hoje se encontra diante de meus olhos
Claros, nítidos e distorcidos pela cor da idade, da maturidade, da sociedade...

Meu pai me aceita como sou.
Sou levada e malcriada e tenho medo de que esse amor se vá.
É preciso ser educada, é preciso, para ser amada.
Tenho que saber cultivar esse amor, esse não vem de graça.
Amor de pai se nasce trabalhando por ele.

Agora meu pai tem um tempo pra mim, ele é só meu! Sem minha mãe, sem meus irmãos, só eu e suas mãos grandes, só eu e seus pêlos engraçados... Quantos pêlos meu pai tem!

Busco essas mesmas mãos nos encontros da vida, mãos que me segurem, mãos que me acolham.
As mãos estão lá: grandes e com pêlos, fortes, grossas e agressivas... Maltratam, me matam, me arranham...
Mãos que batem... É preciso falar baixo, é preciso ser educada, é preciso merecer o amor do homem.
Homem pai de dentro, homem estranho de fora.
Homem que me olha distante, longe em seu estranho mundo de homem... Não chego até ele, é inútil!
Mas quando ele vem... Só eu e eles, os homens de minha vida, a única mulher... e criança.
Felicidade é brincar até a hora de ele ir embora.
Costume é esperar até a hora dele me notar.
Realidade é olhar de perto o homem tão longe, em um mundo distante, desconhecido, o qual eu não faço parte.
O mundo complexo de um homem só... só um homem só... carimbou minha infância, cravou suas marcas em minha vida e dita as regras de minhas buscas.

O amor do homem não vem de graça, trabalhamos desde que nascemos pelo amor do homem.
Queremos, erradamente, acesso ao mundo fechado. Um lugar lá longe, naquele distante homem, enfurnado naquele estranho mundo.
E eu trabalhando pelo seu amor, esperando a sua volta, ansiosa pelo momento em que vou ser só eu e eles... Os homens da minha vida.

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