domingo, 22 de novembro de 2009

E começou assim...


E começou assim... Tudo começa de alguma forma. E começou de uma forma abstrata, indefinida, como a fumaça de um cigarro que dança no ar até se dissipar sem forma.

No início, ou no ponto de partida, naquele momento onde um conjunto de coisas identificadas que formam uma unidade, no momento em que tomamos consciência de uma existência... Neste instante temos um início.

Ele já existia bem antes, a nascente pode ser desconhecida, mas no momento em que as águas despencam com força é quando algo se inicia. Assim sendo, não começo do início, mas inicio um começo do meio, já que temos que começar em algum ponto e de algum lugar.

E começou com um olhar! E por causa desse momento, que durou apenas uns segundos, ele passou a existir na minha vida. Olhos que me acompanharam e me vigiavam e colocaram ordem nos meus dias. Olhos que existem, olhos de uma pessoa, olhos que respiram e têm vida própria. Olhos que falam, que dizem muitas coisas em pouco tempo, que param o tempo e dialogam por horas num piscar de olhos.

A sequência que se seguiu ao olhar foi pura fantasia... Mas os olhos que me acompanham e que vislumbro no escuro, quando fecho meus olhos, serão também eles fantasia?

Me agarro aos seus olhos e me torno uma pessoa melhor pra você ver. Sinto o seu olhar nos meus dias e quero que me vejas bonita. A minha casa arrumada, convidativa, te chamando pra que venhas ao meu encontro. Será que você realmente me vê?

Me apego aos instantes antes de se dissipar a fumaça, e vejo seus olhos nas paredes, no teto do meu quarto, velando o meu sono. Tento desesperadamente prender sua massa abstrata dentro de algo que lhe dê forma, e não quero deixa-lo ir.

Com começo, meio e fim, você me olhou e se foi tão rápido como o início... E agora eu fico a perguntar: Foi pelo seu olhar por mim que me apaixonei, ou o meu olhar por ti? Quem olhou quem? Quem viu o que? Estariam vivos os seus olhos fora de mim? Ou os meus olhos foram os que velaram o meu sono e eu me enxerguei atraves dos seus olhos? Fantasia, tudo vivo apenas em mim, vivi um grande amor comigo mesma te vendo a cada segundo dos dias que se seguiram ao seu olhar.

E no fim, foram em vão os esforços pra segurar a fumaça que saía do meu cigarro. Tudo durou apenas um olhar, como num trago, a fumaça se dissipou em meio ao ar e na minha casa não vejo mais seus olhos. Tudo não passou de fantasia e filosofia que, durante um único cigarro, pensando vagamente em coisas da vida, seu olhar fez parte de um momento de solidão e me fez lembrar de épocas de mais olhares e mais amores e mais fantasias.

E, assim, dando um último trago, vejo a fumaça que sobe, que dança e vai se desfazendo, se dissipando em meio ao infinito do ar... Para, em seguida, o cigarro apagar.

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