terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um dia...



Um dia eu resolvi morar com um namorado. Juntar as escovas de dentes, como se diz. Me parecia a coisa mais acertada a se fazer, e hoje, voltando o filme, vejo que não poderia estar mais errada. Vejo que eu encobria a minha visão e só via o que eu queria ver. Vejo e Fico impressionada com a capacidade que temos de ver apenas o que queremos ver. Em simplesmente passar por cima de qualquer fato que,por ventura, nos faça questionar algo que queremos muito fazer. Quando queremos muito uma coisa, todos os fatos podem dizer o contrário, mas nos agarramos aos pedacinhos que fazem com que acreditemos que vai dar certo. E, assim, nada, nem ninguém, é capaz de nos trazer à realidade ou de nos demover dos nossos objetivos. A gente precisa pagar pra ver! Pois é... Quando a relação acabou, eu estava devastada, completamente sem chão e sem saber pra onde ir.

Foi então que iniciei uma sequência desenfreada de ações e mais ações, eu não podia parar. Corria de um lado pro outro, de pessoas em pessoas, de bar em bar... Tudo pra fugir exatamente do silêncio que ia me fazer parar pra pensar. Nao conseguia lidar comigo, nao queria ficar sozinha, era muito fantasma pra encarar!

Comecei a me violentar. A agir alucinadamente em busca de prazer e ações grandiosas que me estimulassem e, ao final, era invadida por um pranto compulsivo, uma dor que me contorcia por dentro. Sabe aquele tipo de dor que não para, (não existe uma aspirina pra acabar com dor do coração) dá voltade de tirar o corpo fora, pois seu grito é insuportável. Parece que todos os órgãos, todas as células estão espremidos e não podemos fazer nada, a não ser esperar passar.

Essa época me lembra muito aquela cena do “Forrest Gump” quando ele sái correndo, e corre, e corre, corre mais um pouco e um dia... Para, e simplesmente resolve voltar pra casa. Foi assim que eu me senti. Um dia a dor diminuiu e resolvi voltar pra casa... O caminho de volta pode ser demorado, dependendo do tempo que passamos correndo, do quanto nos afastamos de nós mesmos, da nossa casa.

Eu estava correndo há anos! Me sentia perdida, já não sabia mais voltar. Nem lembrava direito como era estar em casa. Minha alma estava exausta de tanto vagar. Mas aos pouquinhos fui, passo a passo, voltando. Tijolo por tijolo, pecinha por pecinha... E fui reconstruindo uma pessoa inteira e sólida, concreta... Como quando nascemos... Um bebê nasce inteiro! Eu não sabia mais em qual momento da minha vida havia começado a me perder. Em que ponto da minha jornada fui engolida pela vida, como por uma onda gigante, que me fazia girar e girar me levando pra onde quisesse, e eu apenas me deixava levar.

Um dia... Parei de girar e correr. Nesse dia, mesmo fraca e exausta, comecei a me construir, a montar e criar, lentamente a minha casinha. Coloquei uma cama bem macia... E em mais um outro dia, eu deitei com o coração em paz.

Quantas voltas eu havia dado em todos esses anos, pra finalmente chegar ao ponto de não fazer nada e apenas ser. Quantas voltas, meu Deus, quantas fugas pra poder vestir o meu corpo confortavelmente e levá-lo pra viver.

Nenhum comentário: