segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O despertar da sexualidade


Como seria se pudéssemos desenvolver os nossos corpos escutando apenas os nossos instintos? Será que tudo ocorreria na hora certa de forma natural? Desde o dia em que nascemos somos bombardeados com noções de certo e errado, do que é aceitável ou não. Sentimos coisas que não deveríamos sentir, impulsos quase repugnantes. Será que seriam aceitos numa sociedade em que não houvesse certo e errado?

Como seria o despertar da sexualidade se simplesmente ouvíssemos o que o nosso corpo diz? Sem culpas, sem medos, apenas mais uma coisa nova pra se conhecer e descobrir enquanto crescemos. Será que teríamos tantos desvios sexuais como temos?

É um paradoxo enorme numa sociedade que respira sexo, onde vemos uma imagem erotizada em cada esquina, onde, com a internet, temos acesso a todo o tipo de informação, e mesmo assim, não sabemos como lidar com o despertar da sexualidade.
O que me leva a pensar no papel dos pais na educação de seus filhos. Seria o de punir, o de gerar sentimentos de culpa e vergonha, ou o de orientar, informar e acompanhar a caminhada de cada um? Por que será que é tão difícil aceitar que seus filhos são seres sexuais? Em qual ponto não resolvido com a sexualidade deles, faz com que joguem suas frustrações nos filhos. Quando apenas estão seguindo o fluxo natural de seus corpos, assim como comer.

E se, em outra cultura, o vergonhoso fosse comer? Se cada um comesse dentro de quartos fechados, em silêncio, e fizessem amor livremente pelas ruas e pelos campos? Parece estranha essa hipótese, mas não seria o mesmo? Não é apenas uma questão de paradigma?

Fico me questionando quantos traumas seriam evitados, quantas sessões de análise canceladas se os pais assumissem o papel de orientadores: informando, auxiliando, acompanhando, sem culpas, sem julgamento, abertos para aprender com as experiências de seus filhos... Deixar que seus filhos vivenciem, aprendam e descubram as suas próprias verdades.

Como as crianças têm medo dos adultos! Como eles lhe parecem enormes e donos da verdade. Desde pequenos já iniciamos uma luta interna entre o que diz o nosso corpo e a culpa. Entre esse impulso fortíssimo, que é a sexualidade, e a vergonha. Mas não se consegue conter o que o corpo pede, é muito grande o prazer que se sente, e a vontade de se fazer de novo... Assim nasce a crença de ser uma criança má, indigna de amor, suja, feia... Talvez isso tudo aconteça mais com as meninas, já que vivemos em uma sociedade machista, onde a sexualidade dos meninos é estimulada desde cedo.
E hoje em dia que alguns pais incentivam a sexualidade nas crianças? Quando vemos crianças de 5 anos fazendo a dança da garrafa, imitando a tiazinha, a mulher melancia e todas as “mulheres frutas” que aparecem o tempo todo. O que pensar sobre isso? Eu, mais uma vez, não tenho respostas pras minhas perguntas...

Qual o quadro de relações que temos nos dias de hoje com essa erotização gigante que a nossa sociedade entrou? Com essa separação do sexo e do amor. Com as mulheres buscando agir sexualmente como os homens. Com as pessoas olhando o sexo como números e conquistas mais do que como a união entre duas pessoas. Onde se perdeu a responsabilidade que deveria existir em relação ao outro... É quase como se o outro fosse apenas um corpo, capaz de satisfazer o seu ego e as suas necessidades físicas. E não, como se essa outra pessoa fosse um ser inteiro, que sente e pensa.
O que eu sinto, é que já quase não se fala mais. Esses encontros casuais de resumem a trocas banais, avaliações físicas gerais, regadas a álcool pra facilitar o processo.

Será que estamos no caminho da evolução? Será que nos tornamos melhores em nossas relações do que a geração dos nossos pais?

Quero, neste ponto, deixar bem claro, que não sou uma pessoa moralista e contra o sexo somente pelo sexo. Acho que cada um faz com o seu corpo e a sua sexualidade o que bem entender e não me cabe julgar. Meu objetivo com esse texto é levantar questões... Só isso. Não pretendo ter resposta nenhuma, apenas parar pra pensar.

Cabe citar uma musica do Gonzaguinha que fala sobre isso “Ponto de interrogação” onde ele diz: “Eu preciso é ter consciência do que eu represento neste exato momento, no exato instante, na cama, na lama, na grama, em que eu tenho uma vida inteira nas mãos”. Olhar pra pessoa a qual vc está transando e ter a consciência de que vc tem uma vida inteira nas mãos e não apenas um corpo... Talvez seja isso o que esteja faltando nas relações sexuais casuais... Quem sabe...

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